
Miguel Lucena
Acossada por uma situação política desagradável, Maria de Alpídio deixou Princesa rumo a São Paulo, na calada da noite, com uma mala, uma cuia e um plano ambicioso: chegar à Espanha e conseguir asilo político, alegando perseguição do promotor e do juiz da comarca, que, segundo ela, “tinham cisma com mulher de opinião”.
Durante meses, viveu de bicos na capital paulista, lavando escadarias de prédio e vendendo “quentinha gourmet nordestina” para influencers de dieta reversa. Mas a ideia de asilo foi ficando para depois. A Espanha, afinal, parecia longe demais — e o visto, mais difícil que entrar na casa de Zé do Rádio com chinelo sujo.
Foi quando, por uma reviravolta que só a política de Princesa explica, o Tribunal substituiu o juiz e o promotor. Os novos já chegaram dizendo que “não tinham nada contra mulher com língua solta, desde que fosse afinada”.
Maria voltou para casa com um sorrisão de campanha eleitoral e, à noite, sob as cobertas, pediu ao marido:
— Alpídio, faz como os homens de Sumpaulo!
— Como, Maria, se eu nunca estive lá?
Ela virou pro lado e sussurrou:
— É por isso que eu quis o exílio…