O que vem a ser algo perigosamente conservador que não pode ser perigosamente inovador ou progressista? O hábito de não comer à mesa, cada qual com seu prato em um quarto com televisão ligada, é moderno e prejudicial, enquanto a família reunida, fazendo a refeição junta e agradecendo pelo alimento conquistado, é um hábito conservador e saudável.
Para a ministra Carmen Lúcia, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, “nota-se um mudança perigosamente conservadora em termos de costumes”.
Houve um momento, após quase duas décadas de revolução sexual, que a sociedade foi obrigada a dar um freio no princípio de que tudo vale e qualquer coisa serve. Foi no final dos anos 70 e início dos 80, quando surgiu a infecção pelo vírus da Aids. As pessoas passaram a se precaver mais, o que não ocorre na atual quadra, em que o surgimento dos coqueteis anti-HIV permitiu uma vida quase normal aos soropositivos e acendeu na mente de psicóticos a ideia da roleta russa sexual.
Ser conservador não significa ser careta e chato, nem muito menos ser contra o progresso e a evolução dos costumes; significa defender princípios que permitem uma vida saudável em sociedade, com respeito às diferenças e às boas tradições, dentro da própria evolução humana.
Em sua evolução, o ser humano criou regras de conduta, etiquetas e posturas, como andar vestido, ser cordial, educado, cavalheiro e respeitoso com os semelhantes, em especial os mais velhos, pais e professores.
O ser humano passou a andar ereto, afastando-se das excretas, mas há quem ache bonito protestar urinando e defecando em via pública, mostrando as partes sem ninguém pedir.
O que a ministra chama de conservadorismo de costumes é a reação da maioria silenciosa da sociedade, antes intimidada pelos que são majoritários nas cátedras e mídias, de não aceitar que se passe por cima da história e das tradições como se nada tivesse existido antes, e que a cada direito corresponda um dever, como o direito de ouvir música sem perturbar o vizinho, de receber salário se tiver trabalhado, de ser aprovado na escola se tiver estudado e demonstrar o conhecimento exigido, de ser atendido quando chegar sua vez e assim por diante.
*Miguel Lucena é delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.