Maria José Rocha Lima
A vida nos impõe, constantemente, muitas incertezas, segundo o psicanalista Márcio Marastoni. Praticamente, transcrevi sua aula, intitulada Incertezas da Vida, por isso poderia colocar grandes aspas, porque, quando não são as suas próprias palavras, outras foram por ele inspiradas. Foi uma aula perfeita, coisa de mestre, necessária não só para psicanalistas, mas para a sociedade contemporânea. Foi psicoterápica, muito técnica, atendendo às urgências da clínica de psicanálise contemporânea, alcançando toda a geração vitimada pelo imediatismo, pelo “agorismo”, pela valorização excessiva dos resultados, em detrimento do caminho a ser percorrido.
Lembrei-me da minha mãe, Dona Teresinha, que com muita sabedoria já me advertia, desde a juventude: “Maria, minha filha, vá descansar, pare um pouco de ler, de pensar, tenha calma, as coisas não podem acontecer da noite para o dia, a vida não é assim: é hoje, é agora, é já!”.
Para Marastoni, “a vida nos impõe muitas incertezas, algumas coisas podem ser tomadas como certas, mas o que governa a vida, verdadeiramente, são as incertezas”.
O psicanalista salienta que não temos controle sequer do que vai nos acontecer nos próximos cinco minutos. “Daqui a cinco minutos podemos, inclusive, estar mortos”.
O psicanalista ressalta que “o agora, por vezes, é tranquilo. O nosso agora, por vezes, nem é percebido. Precisamos aprender a viver o agora, pois muitos de nós temos um teto para dormir, quase sempre todo o membro do corpo funcionando, quase sempre não possui doenças muito graves”.
Vamos lutar e enfrentar com firmeza os problemas que a vida nos apresenta, no dia a dia, com mais calma, sem antecipar o que vem adiante, porque, quase sempre, não podemos controlar o que vai acontecer. Muitos querem saber o final do filme, sem assisti-lo. Que graça tem isso?
“Assim, nos comportamos como alguém que deseja manipular o tempo. Paremos de querer adivinhar o que acontecerá no futuro!”, aconselha.
Na atualidade, para muitos, o caminho parece não ter nenhuma importância, apenas a chegada, só os resultados têm valor. Queremos chegar ao final do filme, desprezando o desenrolar dele, o seu desenvolvimento, as cenas, as falas, os conflitos, as discussões sobre as saídas, as soluções, ou não.
Temos algumas certezas, aqui e ali. Marastoni adverte: se projetarmos em demasia o futuro, nos desligamos do momento, do agora, consequentemente da realidade presente. “A pessoa que projeta em demasia o futuro e deixa de viver o presente deixa de resolver os problemas daquele momento, realizando uma dissociação que levada ao extremo poderá nos levar à loucura”.
Ele conclui que é preciso se concentrar no agora, sem se projetar tanto para o futuro. “Ao invés de antecipar o futuro, que nem sabemos se acontecerá, precisamos viver o presente, viver o agora. É preciso estar presente no agora, com o coração na mão, perseverando, com muita paciência, para realizar uma boa colheita”.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP- e integrante do Clube Soroptimista Internacional Brasília Sudoeste.