Miguel Lucena
A necessidade de aparecer a qualquer custo, para dar algum sentido a vidas vazias, tem levado jovens a espalharem boatos sobre atentados em escolas, aproveitando-se dos crimes pavorosos cometidos recentemente no Brasil e no mundo.
Muitos vão na onda: nem sabem que estão cometendo crimes ao fazer apologia ao crime ou ameaçar determinada comunidade escolar. A ignorância e a futilidade predominam entre as novas gerações, o que aumenta o perigo de sermos vítimas de uma horda bruta e despida de sentimentos.
Há muito tenho falado sobre a perda dos freios morais do medo, da vergonha e da culpa. Sem eles, as pessoas se tornam desembestadas, sem limites, como aquelas levas que saqueiam lojas quando a Polícia faz greve.
Muita gente perdeu o medo dos castigos terreno e celeste, porquanto desacredita do Estado e de Deus. Sem o receio da punição, se acham livres para ofender e até matar.
Outra parte não sente vergonha ao fazer coisas erradas sob as vistas da sociedade, porque entende que ninguém deve julgar o outro e tudo vale para satisfazer os instintos mais primitivos.
Alguns não sentem remorso quando fazem maldade com alguém: deduram, levantam falso testemunho, provocam a queda do colega de trabalho para tomar o lugar, roubam ou matam.
A Polícia Civil do Distrito Federal acaba de apreender um adolescente que resolveu entrar na onda e ameaçar alunos e professores de uma escola do Paranoá. Tomara que fique um bom tempo engaiolado para refletir, e espero que essa notícia se espalhe para que outros idiotas pensem duas vezes antes de aterrorizar seus semelhantes.
Meu caro Miguel,
fico muito grato com sua preocupação, principalmente por eu ser professor do Paranoá e ter muitos e muitos estudantes em situação precarizada de violência e abandono pelo próprio Estado. Sabemos no entanto que as tecnologias do poder do Estado tem falhado ao longo dos séculos e particularmente nas últimas décadas por se centrar no combate ao crime e ao criminoso e não na educação. É preciso investir em educação como nunca se investiu antes nesse país.
Agradeço seu trabalho e confio nele, mas precisamos urgentemente rever a política de segurança no país e mais urgente, como disse acima, pensar e fazer uma revolução na educação. De nada adianta políticas públicas para as escolas se não houver mudança no sistema educacional. Educar não pode mais ser vigiar e punir. A educação precisa estar um passo além de todas as outras instituições sociais, se não for assim, de outro modo não será.
Um abraço.