Maria José Rocha Lima
Felicidades, minha cara amiga Maria Elena Rodrigues da Silva, presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – Abepp. Nunca é tarde para desejar-lhe felicidades, pela passagem do seu aniversário. Desculpe – me por ter sido alcançada por esse lapso incorrigível, que pratico ao longo da vida em relação às datas de aniversários de familiares e amigos. Ainda bem que, neste Natal, celebramos a chegada do Menino Jesus, com um jantarzinho, em nossa casa, com você e sua irmã Francisca Rodrigues (Quinha). Nas entradas do jantar, tratávamos sobre a necessidade do resgate do nascimento do Menino Jesus, quando Quinha, sua irmã, me lembrou da passagem do seu aniversário. Eu exclamei:
– Meu Deus! Dessa vez, esqueci do aniversario da grande amiga, irmã e parceira. Mas me recompus: esqueci da mesma forma que esqueço dos aniversários do marido, do filho, da mãe, dos irmãos, de ex – eleitores estimados e de outros caros amigos. Segundo minha irmã Sueli, que é uma “agenda afetiva”, eu fiquei dependente de assessoria depois de quase duas décadas de assessores no sindicato dos professores e mais oito anos como deputada, contando com a assessoria parlamentar. Bom, isto parece plausível, mas nem Freud me explicou. Numa primeira reação, emiti palavras fraternas, mas eu estava envergonhada, também, porque deveria, pelo menos, ter acessado o grupo do curso de psicanalistas 2021. Passado o choque, prometi que faremos outro jantarzinho, não mais exclusivo para o Menino Jesus, mas para Elena, para celebrar como fizemos no ano passado, com a ajuda da amiga Jacira Siqueira.
O nosso jantar de Natal tornou-se mais emotivo, tantas foram as recordações e afetos que se cruzaram e vieram à consciência, irresistivelmente. Lembramos que Elena fez aniversário e quem ganhou presente fomos nós: “os humilhados e ofendidos”. Tudo começou com um presente brincalhão que ela me trouxera: biscoitos Cream Cracker, para me lembrar que, certo dia em que cheguei a sua casa, devorei um pacote de biscoito, sob o seu olhar perplexo. Elena me perguntou:
– Maria José, você não almoçou, não? Esses biscoitos eram para ser distribuídos com os pedintes das proximidades. Isto, para me lembrar que sou desregrada nos horários, leio noites inteiras e durmo de manhã e como fora de hora. E aí sua irmã nos contou que, nesses dias, ela não fez outra coisa, além de preparar e distribuir comida para os moradores de rua, para os acampados, em épocas de Natal, como acontece, tradicionalmente, aqui, na capital do país. A sua irmã nos disse:
– Zezé e Miguel, Elena vem preparando diariamente cuscuz recheado à paulista, lindamente decorados; risotos, no último caso sobras. Numa das últimas entregas entre as acampadas, depois de receber o alimento, uma mulher perguntou-lhe:- a senhora não tem uma panela de pressão em casa, não? Maria Elena correu em casa, voltou ao acampamento à procura de Betinha e entregou-lhe a encomenda.
Assim, é Maria Elena Rodrigues da Silva! À parte os excessos de amizade, naturais, numa longa e fecunda convivência que começou num curso sobre Drogadição na ENAPE, em 2006, continuou com a minha participação no Curso de Especialista em Psicanálise, e os anos se encarregaram de estreitar, mais e mais, numa cumplicidade irretocável. Elena é aquela pessoa para quem tiro o chapéu. Tanto pelos fecundos ensinamentos sobre psicanálise, como pela sua presença na minha vida pessoal e familiar; pela sua parceria, na refundação da Casa da Educação Anísio Teixeira, participando da sua direção e contribuindo enormemente no Projeto Curta Maria – produção de vídeos sobre a Lei Maria da Penha –por um mundo sem violência contra mulheres e meninas -, que já alcançou 1.200 jovens de escolas públicas do DF.
Todos devemos agradecer-lhe pelo devotado, competente e amoroso trabalho à frente da ABEPP, dando sustentação administrativa, social e até afetiva. No DF, a ABEPP já realizou mais de dez Cursos de Especialização em Psicanálise, formando psicanalistas e auxiliando centenas de brasilienses e goianos e, agora, online, estudantes de outros estados. Quantas pessoas têm sido beneficiadas, pelos cursos e pelas análises que, no mínimo, ensinam às pessoas a tocarem a vida: aprendendo a amar, a trabalhar e se haver consigo mesmo, como admitia Freud, sob os possíveis ganhos da análise.
Elena, o seu aniversário pode passar batido, mas a sua memória estará viva e gravada nos nossos corações!
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É diretora da ABEPP; É membro da Org. Soroptimist International – SI Brasília Sudoeste.