*Maria José Rocha Lima
Esses dias, minha querida comadre Zenaide Nascimento ligou para mim, disse que viu Maria Betânia cantando a Novena de Santo Antônio e lembrou-se de me contar as últimas experiências místicas com o santo, do qual tornou – se devota por minha causa. Fez todo um preâmbulo, falando que nunca tivera essa devoção, que inclusive muito se arrependera de não aceitar os meus convites para a trezena na casa dos Velosos, porque pensava que era em Santo Amaro, não sabendo que era na Casa de Mabel Veloso, no Bairro do Tororó, em Salvador. E lembrou-me sobre um episódio que vivenciamos há três anos, juntas.
Num certo momento da vida, eu atravessava o inferno, e a fé em Deus e o amor de Santo Antônio me salvaram. Estava a caminho de Salvador, nada havia contado para parentes e amigos sobre a viagem, quando recebi uma ligação intempestiva do céu. Eram os meus compadres Zenaide e Vladimir Organauskas, dois mensageiros de Deus. Estranhei a ligação, pouco nos falávamos por telefone. Ela me perguntou:
Onde você está, minha comadre?
Na estrada de Xique – Xique para Salvador.
Na estrada? – perguntou-me outra vez, sem entender. Mas a que horas você chegará a Salvador?
– Lá para as cinco horas.
Estaremos lá para te buscar.
Eu disse que era cedo demais, mas eles insistiram em ir.
Chegamos, eu e minha mãe, em Salvador, lá estavam os dois cheios de expectativa e carinho. Já no caminho para a sua casa, um santuário de amor, num condomínio, paradisíaco, cercado de verde e próximo ao mar, ela começou a me contar: – Comadre, eu te liguei, àquela hora da noite, porque sonhei com Santo Antônio.
Perguntei-lhe: – Como foi o sonho?
E ela me contou: – Era como se estivesse meio dormindo, meio acordada. Em uma praça, parecia na Itália, uma menininha corria, em volta de um frade. Era da sua cor e estava com um vestidinho de um rosa claro, suave, de tecido vaporoso, esvoaçante e gritava:
Venha correr entre nós, venha ficar com a gente.
Algo, como uma quarta parede, me disse que era Santo Antônio.
O santo acompanhava os movimentos da garotinha com um sorriso feliz, um belo e discreto ar risonho, como se estivesse entretido com a menininha.
Algum tempo depois, ele se dirigiu a mim dizendo: “Estou sempre com Maria José”. E eu lhe perguntei: “Que Maria José?” Ele disse: “Zezé”.
-Ela voltou a perguntar, só para confirmar: – A minha comadre? “Sim, ela mesma”.
Disse-me o santo: “Ela foi uma criancinha que ajudou muito no meu processo de consagração à Ordem Franciscana. Eu atravessava um momento difícil, saindo da Ordem Agostiniana, experimentava muitas dificuldades existenciais e teológicas, e essa menininha era uma das crianças que estavam sob os meus cuidados e muito me emocionava. Quando ninguém confiava em mim, ninguém me escutava, a criança vinha com a sua inocência como para me sustentar, com muita leveza ela ficava saltando à minha frente, me aliviando o espírito, me alegrando, me distraindo, me confortando, como se estivesse confirmando o acerto do novo caminho que Deus me indicara: de proteção aos pobres, aos desamparados e aos inocentes. Assim, sou grato e acompanho Maria José para sempre. Ela está precisando de ajuda”.
Depois disso, experimentei uma internação, e uma professora de artes da clínica despediu-se de mim, sem eu nada falar sobre fé, com um belo quadro de Santo Antônio, produzido pelo grupo, dizendo –me: “Leve como uma lembrança de nós”.
Agora, dois anos depois, a minha comadre, que não era devota de Santo Antonio, contou que, quando eu deixei a sua casa e retornei a Brasília, ela recebera de presente uma imagem de Santo Antônio da sogra da sua filha, pessoa com a qual tivera pouco contato. Minha comadre Zenaide tornou-se, também, uma devota de Santo Antônio.
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi presidente da APLB. Deputada de 1990 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista da ABEPP. Membro do Clube Internacional das Soroptimistas Sudoeste Brasília.