É a hipocrisia que reina nas relações sociais e políticas que dá o tom do que somos.
Uma liderança barulhenta de uma cidade procurou um político novo para lhe propor uma parceria política. Confessou que pôs seu nome na disputa para atiçar a imaginação das pessoas e se retiraria da disputa para apoiar novas propostas, porque as velhas raposas estavam desgastadas e corrompidas.
O político novo apresentou ao líder comunitário suas propostas, seu plano de trabalho, conseguiu um espaço na região para o desenvolvimento de projetos sociais e ficou certo de que o barulhento tinha compreendido a necessidade de fazer as coisas de modo diferente, sem molhar a mão de ninguém.
Eis que, duas semanas depois, ao ser contatada, a tal liderança alegou que o novo político demorou demais a realizar com ele os acertos devidos, não ajustou os termos do trabalho, isto é, não propôs uma remuneração para que ele trabalhasse em benefício da comunidade. Por isso, teria fechado politicamente com um parlamentar cujo maior feito foi ser fiel a Eduardo Cunha até a porta da cadeia.
É assim que a coisa funciona entre o parlamentar e muitas lideranças intermediárias que dizem representar a comunidade. São profissionais de cabalar votos, os que perpetuam as velhas práticas e possibilitam que os mesmos de sempre, não importando se sejam honestos ou desonestos, continuem no poder.
Dão um pão de queijo e um quissuco aos desavisados, superfaturam os cafés para ficar com a sobra e ainda se arvoram a frequentar grupos de whatsapp para falar mal dos políticos viciados. É a hipocrisia que reina nas relações sociais e políticas que dá o tom do que somos. Se o povo não acordar desse sonho de engodo e mau-caratismo, estaremos bem encaminhados para o abismo que nos espera logo ali.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.