Maria José Rocha Lima
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra/O coração! Ser mãe é ter no alheio/Lábio, que suga, o pedestal do seio, Onde a vida, onde o amor cantando vibra.
O soneto de Coelho Neto (1864 -1934) era leitura obrigatória no meu curso ginasial e na Escola Normal. Era geralmente lido em voz alta. Mas só agora descobri que, embora fizéssemos a leitura do soneto, ele não ecoava na minha inocente alma infantil sobre a responsabilidade de ser mãe. Ser mãe é um profundo ato de altruísmo.Acredito que não deva haver nenhum outro a que se compare. Ser mãe é dar tudo ao seu filho e não pedir nada em troca. As mães oferecem tudo, tudo ao seu filho, unicamente por amor. Dão tudo em troca de nada. Neste dia das mães, me surpreendi relembrando a leitura do soneto Ser Mãe. Agora, no Século XXI, descobrimos o que o poeta descobriu entre os século XIX e XX : que ser mãe não é tarefa para amadores, para leigos, para crianças, ou “pessoas infantilizadas”; “ desamparadas”, “muito carentes de amor e proteção”. Elas não podem oferecer aos filhos o amor que esses exigem. Tantos anos foram necessários para entendermos o que é ser mãe, para entendermos a profunda dimensão do soneto de Coelho Neto. Nós precisamos de tantos e tantos anos de reflexão, de estudos sobre psicologia, psicanálise, neurociência, pedagogia, movimento pela primeira infância, e ensinos técnicos sobre como ser mãe; criamos a função de visitadores domiciliares para as mães menos privilegiadas aprenderem como cuidar e dar amor ao seu bebê, mas o poeta já advertia nos séculos passados com todas as letras: “Todo o bem que a mãe goza é bem do filho, Espelho em que se mira afortunada, Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!”. E releva que “Ser mãe é andar chorando num sorriso!” Quem é mãe sabe o que ele diz: esconder a tristeza; as lágrimas; engolir o choro para poupar , proteger o seu filhinho. Vimos que não há outras instâncias tão exigentes em termos afetivos. O poeta lembra-nos que ser mãe é “É ser temeridade, é ser receio, É ser força que os males equilibra!”. E nos últimos versos ele chega a ser duro e extremamente real: “Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!”.
Toda mãe quer dar o melhor para o seu filho. Podemos ter tudo, mas se os filhos sofrerem percalços, situações de insucesso, dificuldades financeiras, de nada adianta termos tudo. E conclui lindamente o nosso porta Coelho Neto: Ser mãe é padecer num paraíso!
Maria José Rocha Lima é Mestre e Doutoranda em Educação. Deputada de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.