*Maria José Rocha Lima
Nesses dias tão diferentes, de confinamento social, o resgate de fragmentos preciosos da história vem nos fazendo melhores. Qualquer faísca tem um eco vibrante que nos leva longe, como um destino, vão se desenrolando acontecimentos que criam um admirável tecido, construído por cem, mil outras mãos, que pareciam invisíveis. Isto tudo está fazendo cada vez amigas e companheiras do movimento de professores revolverem o baú de memórias.
Recebi da professora Noêmia Farias da Silva, de Santo Amaro, uma foto minha, discursando na greve geral de 1995. As professoras Noemia, Valdice Edington, Virgínia Monteiro e o professor Nélio da Silva Cerqueira foram os primeiros dirigentes da Associação de Professores Licenciados da Bahia – APLB, na década de 80, em Santo Amaro. Tinham como um parceira na luta a professora Nilza Sacramento, atualmente cidadã dinamarquesa. Na época, ela era namorada do cantor e compositor baiano Raimundo Sodré, que compôs a Massa, sucesso no Festival da MPB do inicio dos anos 80.
Eram todos professores muito respeitados na cidade e atraíram para o movimento o grande músico, compositor e cantor Roberto Mendes, que também era professor e organizou um show inesquecível com o cantor baiano Lazzo para arrecadar fundos para o movimento.
O cantor, violonista e arranjador Roberto Mendes teve várias músicas gravadas por Maria Betânia, Margareth Menezes, Jussara Silveira, entre outros, ajudando na conquista da família Veloso, que era muito importante, dada a influência desses na cidade. Desse modo, o movimento de professores em Santo Amaro contava com o apoio de Rodrigo Veloso, mais tarde Secretário de Cultura de Santo Amaro; da professora escritora e poeta Mabel Veloso; do cantor e compositor Jota Veloso; e lembrar com uma ponta de orgulho da grande matriarca Dona Canô, a quem agradeci o seu elegante e discreto apoio, convidando-me para a Festa da Purificação e comer uma iguaria da culinária de Santo Amaro, a Maniçoba, prato feito da folha da mandioca ralada com diversas carnes, servida durante o período da festa.
Uns cinco anos antes de Dona Canô partir para o Céu, fui à sua casa agradecer o apoio, acompanhada das professoras Noêmia e Marinalva Nunes, ex- vice presidente da APLB –Sindicato dos Professores, e fiquei muito impressionada quando Dona Canô, com mais ou menos 100 anos de idade, pediu à sua filha Mabel que buscasse o seu brinco para ela se ornar e receber as visitas.
Noêmia atualmente é professora aposentada do estado e muito se orgulha de ter atuado na APLB Sindicato dos Professores, instituição da qual fui dirigente durante 12 anos. A professora lembra que atuou na APLB durante toda a sua vida profissional. Em 1992, ela fundou uma escola, que nasceu diferente, realizando os conhecidos Debates da Escola Cooperativa de Santo Amaro. Assim, realizava-se uma experiência inovadora e reconhecida pela comunidade, que tem ela como Vice- Presidente.
Esses santamarenses honram a memória de outros grandes, como o educador baiano Adroaldo Ribeiro Costa, “O Homem da Hora da Criança”, como o descreveu Glauber Rocha. Esta será uma outra página das nossas memórias.