O governador Rodrigo Rollemberg excluiu a Polícia Civil do DF de qualquer proposta de governo, caso seja reeleito no próximo dia 28. Age como o adolescente infrator que, entrevistado para o Plano Decenal Socioeducativo, alegou que atirava nas vítimas porque elas eram muito apegadas aos bens materiais e se recusavam a entregar-lhe seus celulares no momento do assalto.
O Correio Braziliense pediu para que os candidatos Rollemberg e Ibaneis Rocha listassem suas prioridades para o primeiro mês de gestão. Enquanto o candidato da oposição, entre outros assuntos relevantes, incluiu o envio da mensagem à Presidência da República com a retomada da paridade de vencimentos entre a Polícia Civil do DF e a PF, retirada pelo atual governador, Rollemberg fez questão de nem mencionar a PCDF.
Ibaneis listou ainda a reabertura das 21 delegacias circunscricionais que foram fechadas à noite e nos finais de semana pelo governo Rollemberg, por falta de efetivo policial, reduzido à metade.
O ressentimento do governador com a Polícia Civil não faz sentido. Ele esmagou a instituição, deixou seu efetivo reduzido à metade, 21 das 30 delegacias fechadas e ainda retirou a paridade histórica com a Federal, fazendo que a melhor polícia do Brasil passasse a ser a nona colocada em termos salariais, superada por oito polícias de estados mais pobres que o DF e sem o mesmo custo de vida.
Os policiais civis do DF estão há 10 anos sem reajuste. Não participaram dos benefícios concedidos a outras forças de segurança porque eram vinculados à Polícia Federal, que também ficou anos sem recomposição salarial. A promessa era reajustar os salários da PCDF tão logo a União concedesse o reajuste da PF, mas isso nunca aconteceu.
Com razão, os policiais civis aprovaram, em assembleia, apoio ao candidato da oposição, deixando Rollemberg irado. Ele queria sambar em cima da gente.
Só os masoquistas apanham e acham bom. A reação dos policiais civis aos maus-tratos é natural, e o governador deveria entendê-la, se não pensasse de modo enviesado, como se nós, pisoteados, desvalorizados e desprezados, lhe devêssemos gratidão.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.