Blairo Maggi, Júlio Campos, Carlos Bezerra e Silval Barbosa tinham negócios com ex-bicheiro; familiares de Dante de Oliveira também aparecem
Menções a ex-governadores e parentes constam em documentos da Operação Arca de Noé
O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro manteve negócios, entre eles empréstimos, arrendamentos e outros, com cinco ex-governadores de Mato Grosso ou parentes próximos a eles, de acordo com os documentos da Operação Arca de Noé obtidos com exclusividade pelo Midiajur.
Júlio Campos (1983-1986), Carlos Bezerra (1987-1990) e Silval Barbosa (2010-2015) são citados nominalmente em negócios mantidos diretamente com o homem conhecido como “comendador”.
Familiares de Dante de Oliveira (1995-2022) e Blairo Maggi (2003-2010), além de empresas do ex-ministro da Agricultura, também são mencionadas nos documentos apreendidos pela Polícia Federal, em 2004, quando teve início a derrocada do homem que ficou conhecido como chefe do crime organizado em Mato Grosso.
Júlio Campos
De acordo com os registros mantidos por Arcanjo, o ex-governador Júlio Campos devia um título de crédito de R$ 216 mil. O documento foi apreendido na Confiança Factoring, em junho de 2004. Se atualizado, sem aplicação de juros, a dívida estaria hoje em R$ 824,8 mil. O valor é corrigido pelo IGP-M da FGV.
Outros dois valores ligados a Júlio constam nos documentos. Um título de crédito da empresa Empreendimentos Santa Laura S/A, da qual o ex-governador é sócio, era de R$ 162,2 mil à época e estaria em R$ 619,3 mil se corrigido pelo IGP-M. A ata de assembleia de constituição da Santa Laura, com o estatuto social da empresa, também foi listada pela PF como um dos documentos em posse de Arcanjo.
O nome da ex-esposa de Júlio Campos, Isabel Coelho Pinto de Campos, consta de uma dívida de R$ 200 mil com a factoring do ex-bicheiro. Isabel faleceu em 2012. O valor atualizado da dívida seria de R$ 763,4 mil.
Carlos Bezerra
Já o ex-governador Carlos Bezerra, que atualmente é deputado federal, aparece em duas menções a documentos apreendidos na VIP Factoring Fomento Mercantil, outra empresa de Arcanjo.
Um envelope amarelo encontrado pelos policiais continha uma corresponddência de cobrança de cheque do então senador Carlos Bezerra. Segundo a anotação da PF, Bezerra “nega efetuar o pagamento” ao ex-bicheiro.
Outro envelope, de cor cinza, também encontrado na VIP Factoring, tinha como destino “Nilson”, que seria o administrador Nilson Roberto Teixeira, uma espécie de braço direito de Arcanjo. Os policiais não anotaram o conteúdo, citaram apenas que a correspondência tinha 15 páginas.
Silval Barbosa
O ex-governador Silval Barbosa aparece fazendo negócios com Arcanjo por meio de um cheque. Uma cópia do documento, emitido pelo Banco de Crédito Nacional (BCN), utilizado em grande volume para as transações das factorings do ex-bicheiro, consta como “nominal a Silval Barbosa” no valor de R$ 30 mil. Corrigido, o cheque valeria hoje R$ 114,5 mil.
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Blairo Maggi
Citações as empresas do ex-governador Blairo Maggi, eleito em 2002 e reeleito em 2006, também aparecem na documentação apreendida pela PF. A Agropecuária Maggi, fundada pelo pai do ex-ministro da Agricultura, consta do rol de duplicatas apreendidas. O nome da empresa aparece na coluna “Sacado” de uma duplicata com data de 30 de dezembro de 2001 no valor de R$3.900,56. O “Sacador” da duplicata seria a empresa Travassos Segurança LTDA, ligada ao ex-secretário de Segurança Pública Oscar Travassos.
A Agropecuária Maggi também aparece em outra duplicata, de mesmo valor, datada de 30 de novembro de 2001. A empresa Sementes Maggi também consta na lista como “Sacado” de uma duplicata com valor de R$ 7.544,34 à época. A data também é de 30 de novembro de 2001.
Familiares do ex-governador, ex-ministro e ex-senador Blairo Maggi também constam no rol de documentos apreendidos pela PF em 2004.
Na sede da Credifac C.D. Factoring Fomento Mercantil Ltda, também de propriedade do ex-bicheiro, a PF encontrou o contrato de arrendamento assinado entre Arcanjo e os empresários Eraí Maggi Scheffer, Elusmar Maggi Scheffer e José Maria Bortoli. Os três são sócios do Grupo Bom Futuro. Eraí e Elusmar são primos do ex-governador Blairo Maggi.
O contrato diz respeito à Fazenda Colibri, localizada em Santo Antônio do Leverger, nas proximidades do distrito de Mimoso, com área de mais de 300 hectares. A propriedade foi tomada pela Justiça pelos crimes cometidos pelo ex-bicheiro e entrou em leilão em 2021 por R$ 11,9 milhões.
Dante de Oliveira
O ex-bicheiro também mantinha relações com familiares dos ex-governador Dante de Oliveira.
A PF encontrou uma cópia de outro cheque do BCN no valor de R$ 53,5 mil emitido pela Confiança Factoring que era nominal a “Maércio Antonio de Jorge” – o nome do produtor rural é na verdade Antonio Maércio de Jorge.
Ao cheque estava anexada uma “discriminação de Contas a Receber com o nome da Drª Inês Martins de Oliveira Alves”, irmã de Dante. Havia ainda a inscrição, segundo a PF, de “Débito do Sr. Carlos Avalone”, fazendo referência ao deputado estadual que era um aliado e amigo próximo do ex-governador.
O valor do cheque, se atualizado, estaria hoje em R$203,6 mil.