Enfermeiros que aplicaram vacinas contra a Covid-19 durante todo o ano contam o que sentem depois de intenso de trabalho
Mais de 142 milhões brasileiros já estão totalmente imunizados contra a Covid-19. O número corresponde a 78,42% da população com 12 anos ou mais.
Em meio a uma pandemia que já vitimou mais de 618 mil vidas brasileiras, a vacinação reduziu a mortalidade pela doença de forma drástica e possibilitou a flexibilização das medidas sanitárias restritivas que isolaram a sociedade durante a pandemia.
No centro do colapso sanitário, os profissionais de saúde tiveram um ano exaustivo. Com hospitais Lotados e uma enorme campanha de vacinação, eles não pararam.
Neste Natal, boa parte das capitais brasileiras pausa a Campanha Nacional de Vacinação para um descanso merecido. Enfermeiros que aplicaram vacinas durante todo o ano aproveitam o descanso com a família e compartilham momentos marcantes.
Nayara Silva, enfermeira da Unidade Básica de Saúde (UBS) I do Riacho Fundo I, no Distrito Federal, foi vacinada em setembro de 2020. Ela foi voluntária do estudo que criou a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
“Sempre confiei. A vacina não é algo novo e várias das vacinas do calendário nacional são produzidas pelo Butantan. Não havia porque não confiar”, explica.
“Ver a população indo vacinar me faz acreditar que estamos perto de controlar essa doença e viver com mais normalidade”, confessa. Marcos André Cavalcanti, também enfermeiro no DF, na Clínica da Saúde II do Recanto das Emas, reflete: “Paro para pensar e vejo que eu e meus amigos vamos entrar para a história”.
Depois de uma pausa em silêncio, admite: “Desculpa estar sendo prolixo, é que é muita emoção”. “É muito gratificante, a gente fica cheio de esperança. Começamos a diminuir os atendimentos de Covid na nossa unidade. É ver todo o nosso esforço ter resultado’, diz Nayara.
Os profissionais são unânimes em classificar o ano de trabalho como extremamente cansativo, com muitas dificuldades, exaustivo, atípico. “A gente precisou parar de fazer atendimentos para fazer a aplicação das vacinas. É bem complexo para organizar tudo, eram quatro vacinas diferentes, para atender todos os diferentes públicos”, explica a profissional da saúde.
“Toda a Secretaria de Saúde teve que descolar pessoas, enfermeiros, para outras unidades, para a aplicação de vacinas”, fala Marcos André. “No início, tinha muita confusão na fila porque os intervalos mudavam, gerou um certo estresse. Fora as pessoas que maltratavam a gente”, completa Nayara.
Para ficar na memória
Nayara teve a oportunidade de vacinar a avó e o irmão. “Não vejo a hora de poder vacinar minha filha”, diz, animada. A pequena, com oito anos, aguarda ansiosa pela disponibilização de imunizantes para menores de 12 anos.
“Teve uma senhora que se ajoelhou para agradecer quando tomou a segunda dose, aquilo ali me comoveu”, relembra Marcos. “A gente que é da área da saúde acha tão natural aplicar uma vacina, mas as pessoas acham realmente muito gratificante esse momento”.
Nayara relembra um fato inusitado: “Teve um cidadão que não queria se vacinar, mas queria o comprovante, porque precisava pro trabalho, mas não confiava. Pelo menos nesse dia ele foi embora sem se vacinar”.
“Alguns pacientes foram vacinados com a gente, na nossa unidade, tiveram Covid e foram bem leves, aí depois iam lá contar pra gente e dar esse retorno”, continua a enfermeira.
Descanso merecido
Marcos não perdeu nenhum familiar para a Covid-19. A folga de Natal é, sobretudo, uma grande comemoração por terem chegado até aqui bem e com saúde. “Tive pessoas próximas, enfermeiros próximos, com a família ceifada pela doença. Isso é muito triste”, lamenta.
Já Nayara preparou a ceia para receber a família, que veio de longe para o reencontro tão esperado. “Tenho parentes que vão vir de longe, esperaram ter essa segurança, tomar a vacina para se reunir”, diz.
“O presente que eu queria do Papai Noel é vacinas e mais vacinas”, brinca Marcos André. “Só com a vacina vamos ter uma economia saudável”, conclui.
O descanso, porém, será breve. Logo os enfermeiros arregaçam as mangas e voltam à linha de frente:
“Agora é se preparar para um novo ciclo, com a H1N1 e a variante Ômicron”, lembra Marcos. “Vencemos a batalha, mas é uma guerra”.
Do Metrópoles*