Maria José Rocha Lima
Filho não é boneco
A prevenção da gravidez na adolescência agora está na Lei nº 13.798/2019, que acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – um novo artigo, instituindo a data de 1º de fevereiro para início da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.
Uma providência legal, que esperamos reverbere em todas as instituições do país para disseminar informações preventivas e educativas sobre gravidez na adolescência, pois aos jovens, principalmente aos pobres, faltam os acessos à educação e à saúde, em conseqüência a falta de informação sobre sexualidade, direitos reprodutivos e medidas preventivas.
É preciso, ainda, conscientizar muitos pais, que vêm deixando os filhos adolescentes à deriva, freqüentando festas noturnas onde se envolvem com pessoas estranhas que podem levá-las a experimentar o álcool e as drogas, tendo como uma das conseqüências a gravidez indesejada.
A cada ano cerca de um milhão de adolescentes engravidam sem desejar.
Em 2015, a região com maior prevalência de gravidez precoce foi a Nordeste (180.072 – 32%), seguida pelo Sudeste (179.213 – 32%).
A gravidez na adolescência é causa significativa de mortalidade juvenil, só perdendo para homicídios e acidentes de trânsito. O adolescente não tem o corpo bem formado, desenvolvido e preparado para a gestação. Na maioria dos casos, há complicações na gravidez e no parto. Também o bebê pode ter problemas de saúde, que comprometem a sua saúde física e mental.
A gravidez na adolescência envolve muito mais do que problemas físicos, pois há também problemas emocionais e sociais. O adolescente não tem preparo suficiente para assumir os cuidados de uma criança.
Um filho provoca muitos impactos na vida de seus pais e quando estes são muito jovens não estão preparados para isso, não dispondo de recursos psíquicos nem financeiros. Dependem dos seus pais, que nem sempre podem ou desejam ajudá-los. Em muitos casos, a jovem grávida tem que conviver com o fato de um namorado ou parceiro eventual não querer assumir a gravidez.
Ser pai e mãe de verdade não é só ter um filho. Isso poderia ser denominado acidente biológico, como ocorre com os demais animais. Transformar este acontecimento em algo significativo exige consciência, compromisso, responsabilidade e amor.
Cabe a todos nós um trabalho permanente de reflexão sobre a responsabilidade da maternidade e da paternidade, sobretudo alertar os pais, professores e gestores sobre as trágicas conseqüências da negligência e do abandono da criança na primeira infância: violência infantil e adolescente; obesidade epidêmica; toxicomania e alcoolismo em idades cada vez mais baixas; notáveis índices de ignorância.
Botar um bebê no mundo é muito diferente de manipular um boneco. O bebê humano exige muitos cuidados físicos e espirituais para se tornar gente.
Filho não é boneco. Cuidar de um filha não é brincar de boneca!
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em Educação. Deputada Estadual de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.