Quem assume a chefia da Deam é a atual diretora da Divisão de Análise Técnica e Estatística (Date), delegada Carolina Litran
O delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Robson Cândido, assinou, nesta segunda-feira (4/1), a exoneração da delegada-chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Sandra Gomes. O ato ocorre após o Metrópoles revelar que a policial se tornou alvo de sindicância por suspeita de assédio moral contra os servidores lotados na unidade especializada.
A decisão será publicada no Diário Oficial do DF (DODF). A reportagem apurou que quem assume a chefia da Deam é a atual diretora da Divisão de Análise Técnica e Estatística (Date), delegada Carolina Litran. A divisão pertence ao Departamento de Inteligência e Gestão da Informação (DGI).
O caso da delgada Sandra Gomes é conduzido pela Corregedoria-Geral de Polícia, em conjunto com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), já que a prática pode configurar improbidade administrativa, em razão da inobservância dos princípios de moralidade, impessoalidade e transparência que regem o serviço público.
O procedimento foi instaurado em 14 de dezembro de 2020 e investiga a incidência disciplinar descrita no artigo 43 da Lei nº 4.878, de 1965, que trata de “praticar ato que importe em escândalo ou que concorra para comprometer a função policial”.
Abuso de poder
As denúncias foram protocoladas por seis delegados de polícia e nove agentes. Os servidores detalharam situações de desgaste psicológico, além de taquicardia, insônia, sensação de desânimo, pânico laboral, situação de irritação extrema e depressão. Três deles relataram que, diante dos supostos atos de “abuso de poder” e “manipulação perversa” praticados pela delegada, precisaram recorrer à Policlínica da PCDF, na tentativa de receber tratamento psicológico e psiquiátrico.
Segundo os relatos feitos na Corregedoria, as supostas perseguições se iniciam a partir de uma situação que desagrade a delegada – como questioná-la acerca de uma irregularidade, manifestar opinião divergente sobre determinado assunto ou apresentar atestado médico. Depois disso, os policiais afirmam que são colocados em “situações humilhantes”.
Detalharam que, por vezes, são ofendidos e chamados de “lerdos” e “burros”. Alguns acrescentam que sofreram imputação de fatos falsos, com o objetivo de prejudicar a imagem profissional e, assim, removê-los da unidade, a pretexto de um suposto ato lícito.
Os policiais ressaltaram que, durante o expediente, é comum “ouvir os gritos” da delegada, e que já presenciaram diversas servidoras chorando. Uma das denunciantes conta ser alarmante ver que tais situações ocorrem no ambiente de uma delegacia da mulher, local que deveria ser de proteção especial a elas, e de promoção da dignidade da pessoa humana.
Outro policial contou, em depoimento à Corregedoria, como se sentia ao ter de lidar com a delegada Sandra Gomes Melo. “Chorei, senti taquicardia e sintomas de crise de pânico, coisas jamais sentidas por mim antes desta experiência laboral. Não é possível que servidores policiais sejam condenados por um momento da vida em que adoecem e apresentam um atestado médico já homologado pela policlínica. Nós não somos robocops”, relatou.
Investigação
Em nota, a Corregedoria-Geral informou que apura os fatos e que o procedimento tem caráter sigiloso. “A PCDF esclarece que a CGP tem independência para apurar todas as denúncias que chegam ao seu conhecimento e aplicar os rigores da legislação”, diz o texto.
Quanto a medidas de prevenção ao assédio moral no trabalho, a corporação explicou que a Policlínica da PCDF produziu uma cartilha sobre o tema. “O material está disponível na intranet para todos os servidores, e também desenvolve vários programas que abarcam autodesenvolvimento pessoal, profissional e relacionamento interpessoal”, detalhou.
Ao Metrópoles, o Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (Ncap), do MPDFT, confirmou que acompanha as apurações. Ressaltou, no entanto, que, “até o momento, não há elementos para pedir o afastamento da delegada. As provas são divergentes, e não há indícios de que ela esteja assediando ou coagindo qualquer servidor que possa servir como testemunha”.
Segundo o MPDFT, as diligências apuratórias estão em andamento e qualquer providência que se fizer necessária será adotada no momento oportuno.
O que diz a delegada
À reportagem, a delegada Sandra Melo Gomes negou tal conduta com seus subordinados. “Tais fatos não procedem, são inverídicos e estão sendo devidamente apurados com a juntada de documentos e provas testemunhais que comprovam a improcedência”, alegou.
Metrópoles