Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
O senador José Serra (PSDB-SP) foi alvo de uma operação da Polícia Federal de São Paulo que investiga um suposto caixa 2 na campanha dele ao Senado em 2014. As investigações apontam que ele recebeu R$ 5 milhões em doações não contabilizadas feitas a mando do empresário José Serpieri Júnior, da Qualicorp.
A operação, que foi denominada Paralelo 23, foi uma nova fase da Lava Jato que apurou crimes eleitorais e foi feita em conjunto com o Ministério Público Eleitoral (MPE). As apurações se restringem a fatos de 2014, quando Serra ainda não tinha o mandato de senador.
Veja o que se sabe e o que falta esclarecer sobre as seguintes perguntas:
- Quem foi alvo da operação?
- Quem foi preso?
- Como funcionava o suposto caixa 2?
- Qual era a contrapartida de Serra para que fosse favorecido com o caixa 2?
- Os presos vão responder por quais crimes e quais são as penas previstas?
- O que dizem os investigados?
- Quais são os próximos passos?
- A operação sobre caixa 2 tem relação com a denúncia contra Serra sobre lavagem de dinheiro?
1. Quem foi alvo da operação?
A operação cumpriu 15 mandados de busca e 4 de prisão temporária em São Paulo, Itu e Itatiba (no interior paulista), e em Brasília.
O senador José Serra foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua casa e em seu apartamento em São Paulo, além de em seu apartamento funcional em Brasília.
O gabinete do senador em Brasília era um dos alvos, mas o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar (decisão provisória) para suspender o mandado de busca e apreensão determinado pela primeira instância, atendendo a pedido da Mesa do Senado.
Os alvos de mandados de prisão foram os empresários José Serpieri Júnior (fundador e sócio da Qualicorp), Arthur Azevedo Filho, Mino Mattos Mazzamati e Rosa Maria Garcia.
Não foram informados detalhes sobre os demais alvos de busca e apreensão.
Jose Seripieri Junior, em foto de julho de 2011 — Foto: Jonne Roriz/Estadão Conteúdo/Arquivo
2. Quem foi preso?
Três empresário foram presos temporariamente e levados para a sede da Polícia Federal, na Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, onde deverão permanecer por 5 dias. A prisão temporária pode ser prorrogada pelo mesmo período.
Veja o nome dos presos:
- José Serpieri Júnior
- Arthur Azevedo Filho
- Rosa Maria Garcia
O empresário Mino Mattos Mazzamati não foi localizado pela PF em Itu, no interior paulista, e foi considerado foragido.
3. Como funcionava o suposto caixa 2?
Parte de um grupo empresarial da área de saúde destinava recursos para a campanha eleitoral de José Serra de 2014. De acordo com o Ministério Público Eleitoral, a Qualicorp, grupo que comercializa e administra planos de saúde coletivos, simulava contratos envolvendo a prestação de serviços ou contratos de aquisição de produtos.
Em seguida, o grupo efetuava transferências bancárias para empresas que intermediavam o então candidato José Serra durante campanha. Os repasses foram feitos para os intermediários do candidato. O acionista controlador da empresa e também um dos fundadores da Qualicorp, José Serpieri Júnior, fornecia os números de contato dos intermediários do então candidato.
Segundo investigações, Seripieri Júnior determinou doações não contabilizadas a Serra no valor de R$ 5 milhões: sendo duas parcelas no valor de R$ 1 milhão e uma de R$ 3 milhões.
Esquema para repassar doações de campanha não contabilizadas ao candidato José Serra em 2014 — Foto: TV Globo/Reprodução
4. Qual era a contrapartida de Serra para que fosse favorecido com o caixa 2?
Investigadores não esclareceram qual seria a contrapartida dada por Serra para que fosse beneficiado com o suposto caixa 2 na campanha.
5. Os presos vão responder por quais crimes e quais são as penas previstas?
Segundo a operação, os investigados responderão por pelos crimes descritos abaixo, com penas de 3 a 10 anos de prisão:
- associação criminosa
- falsidade ideológica eleitoral
- lavagem de dinheiro
- corrupção ativa e passiva
6. O que dizem os investigados?
- Em nota, o senador José Serra lamentou a espetacularização da investigação e disse que desconhece as acusações. Ele afirmou que “foi surpreendido esta manhã com nova e abusiva operação de busca e apreensão em seus endereços, dois dos quais já haviam sido vasculhados há menos de 20 dias pela Polícia Federal”. “A decisão da Justiça Eleitoral é baseada em fatos antigos e em investigação até então desconhecida do senador e de sua defesa na qual, ressalte-se, José Serra jamais foi ouvido”, diz a nota.
- A Qualicorp confirmou que ocorreu o cumprimento do mandado de busca e apreensão em sua sede administrativa e disse que a nova administração da empresa fará uma apuração completa dos fatos. A empresa também afirmou que está colaborando com as autoridades públicas competentes.
- A defesa do empresário José Serpieri Júnior disse que não vai se pronunciar enquanto não tiver acesso aos autos.
- O G1 não localizou a defesa dos demais citados.
7. Quais os próximos passos?
De acordo com a Polícia Federal, o próximo passo é intimar as pessoas que não foram presas para ouvir em detalhes o que elas têm a dizer e esclarecer a respeito dos fatos. Só depois disso poderá ser concluído o inquérito, que deverá ser relatado ao Ministério Público Federal para a apresentação de uma eventual denúncia.
8. A operação sobre caixa 2 tem relação com a denúncia contra Serra por lavagem de dinheiro?
A operação sobre caixa 2 não tem relação com a denúncia contra José Serra do início de julho, quando ele foi alvo de outra operação, por lavagem de dinheiro. Na ocasião, a filha dele, Verônica Allende Serra, também foi denunciada pelo mesmo crime.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, a Odebrecht pagou a Serra cerca de R$ 4,5 milhões entre 2006 e 2007, supostamente para usar na sua campanha ao governo do estado de São Paulo. Outros cerca de R$ 23 milhões foram pagos entre 2009 e 2010, para a liberação de créditos com a Dersa, estatal paulista extinta no ano passado, ainda segundo a denúncia.
*Por G1