Miguel Lucena
Os extremos, enquanto se digladiam, esquecem que 32,2 milhões de brasileiros se abstiveram de votar em Lula e Bolsonaro, 3,9 milhões anularam o voto e 1,7 milhão votaram em branco.
Mesmo entre os 60,3 milhões de eleitores de Lula e 58,2 milhões de Bolsonaro, há um grande contingente que não é lulista nem bolsonarista. Há votantes de centro, centrão, centro-direita, centro-esquerda, extrema-esquerda e extrema-direita, além dos que não são de posição político-ideológica nenhuma, que votam de acordo com influências ou simpatias.
Quem votou em um dos lados se acha: “O Brasil é meu”! – como se pudesse se arvorar disso. Ou “eles são do Diabo e nós somos de Deus”, “sou contra a ditadura comunista e da toga, mas quero a ditadura da farda”.
As cenas de desespero em frente aos quarteis revelam um contingente órfão de pai, pedindo a um general que o socorra, na ausência do líder que se enclausurou.
Do outro lado, um contingente vitorioso acanhado, acautelado, esgueirado, com receio do porvir.
No meio, a população em geral assiste, bestificada, ao espetáculo dos dois cordões, sem direito a dar uma opinião moderada, com temperança, sem correr o risco de levar um grito ou um murro.