sexta-feira, 18/04/25

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O amor ainda sabe o caminho

Ilustração/IA

 

Zeugma Santos.

No começo, parece só um esquecimento. Uma palavra trocada. Um nome que não vem. Uma panela no fogo esquecida — o tipo de coisa que pode acontecer com qualquer pessoa cansada ou distraída. Mas, quando começa a se repetir, quando os sinais mudam de tom, alguma coisa lá no fundo já começa a mudar também.

O Alzheimer não avisa. Ele vai ocupando espaço aos poucos, tirando nomes, memórias, depois a fala… e, às vezes, até a paciência da gente. Muita família se irrita sem perceber. Confunde doença com teimosia. E isso dói — em quem cuida e em quem é cuidado. E é aí que, às vezes, alguém mais próximo — um familiar ou amigo com um olhar mais atento — percebe que pode haver algo além e procura ajuda profissional. Foi o que aconteceu neste caso específico: o apoio veio do Sarah, um centro de reabilitação que acolheu, orientou e diagnosticou o Alzheimer. A equipe promoveu encontros online com a família — e com outras famílias também — mostrando que muitos viviam situações parecidas, com reações semelhantes. Isso trouxe compreensão e iniciou um tratamento que envolvia não só o paciente, mas também os que estavam por perto. A partir daí, entrou o cuidado da medicina, com profissionais preparados para caminhar junto.

Depois, os médicos da MedSenior nos deram orientação firme e humana, passo a passo. E tivemos o cuidado incansável da fisioterapeuta Paula, que tratou da minha mãe com dignidade — no corpo e na alma — e acolheu nossa família com o mesmo respeito.

Escrevo isso pra quem está começando a viver o que a gente viveu. Não tem manual. Mas tem afeto, tem troca, tem momentos bons também. Como nas nossas tardes simples em cafeterias, com risos soltos e pão de queijo. Era comum minha mãe terminar de comer e dizer: “Vocês não vão me dar comida? Deus castiga, hein?” E todo mundo ria. Porque, mesmo quando a memória falha, o amor ainda sabe o caminho.

Sou grata à ciência, que continua estudando o Alzheimer, e aos profissionais que, com esse conhecimento, cuidam com empatia. E sou grata a Deus, que deu sabedoria e sensibilidade — a quem cuida, a quem pesquisa e a quem acolhe. Que mais pessoas encontrem esse apoio — no tempo certo, com o coração aberto.

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10 COMENTÁRIOS

  1. Sábias palavras Zeugma. O Alzheimer é uma doença que não tem preconceito quanto ao sexo, cor, religião, situação social. De fato ele aparece sem nos avisar, quando percebemos, descobrimos que já é tarde de mais, que não tem volta. Resta apenas desfrutar o resto da memória que ainda luta para existir. Depois chega na fase em que choramos e rimos pelas situações descontraídas. Realmente é muita luta para os que estão apenas acompanhando, mas é gratificante termos a pessoa ao nosso lado com vida que podemos abraçar, beijar, amar como se não houvesse o amanhã. Mas chega o dia em que Deus recolhe para os seus braços, uma morada que não há sofrimento, lutas, fome. De fato existe tempo para tudo, para se alegrar, chorar, lembrar, viver (Eclesiastes 3:1). É Zeugma, entendo muito bem o que é uma pessoa com Alzheimer, minha sogra. A palavra de Deus nos alerta que somos estrangeiros aqui na terra:1Crônicas 29:14-16, Hebreus 11:13 e Salmos 119:19. A nossa força vem do alto e não da terra e muito menos debaixo da terra (Salmos 121). Assim, continuo em oração e dizendo que ela descansa nos braços do senhor. O choro pode durar uma noite (um tempo), mas a alegria vem pela manhã (Salmos30:5).

  2. “Obrigada ao Planalto em Pauta por essa oportunidade e por esse espaço. Louvo a Deus por essa bênção de ter minha crônica publicada neste jornal. Foi uma forma de homenagear minha mãe e também de reconhecer o trabalho dos profissionais da saúde, dos pesquisadores, das cuidadoras, da fisioterapeuta Paula, do Hospital Sarah e do Hospital MedSenior. Agradeço por esse espaço de amor, memória e gratidão.”

    • Sua crônica é linda e muito tocante. Uma homenagem cheia de amor! E que bom ter espaços como o Planalto em Pauta, que acolhem e valorizam histórias tão especiais como a sua.

  3. Obrigado por compartilhar sua experiência com essa doença que, infelizmente, é tão comum nos dias de hoje. É curioso como, de certa forma, tudo se repete — sempre tem alguém que já viveu algo parecido. Seu relato traz proximidade e nos faz refletir.

  4. Este relato me tocou profundamente. A honestidade com que você descreve a jornada do Alzheimer, desde os primeiros sinais até a busca por apoio, é comovente e inspiradora. Agradeço por compartilhar sua experiência e por destacar a importância do cuidado humanizado, da empatia e do amor nesse processo. Que seu relato sirva de conforto e esperança para outras famílias que enfrentam essa difícil realidade.

  5. Luiza,(Carol)
    Seu comentário me tocou. Obrigado por ter cuidado da minha mãe com tanta dedicação ao longo dos anos. Saber que o texto te alcançou desse jeito diz muito para mim. É uma troca silenciosa, mas cheia de sentido.

    Com carinho,
    [Familia da Vovó Versionilia ]

  6. Li o texto e te parabenizo , vc relatou a realidade dia a dia do idoso com Alzheimer e a família. Realmente os primeiros indicativos da demência mostram sinais claros mais que só temos confirmação com o diagnóstico médico.
    E quando passamos a ter consciência do que está acontecendo , ficamos sem saber como lidar com o alemão. Mais sabemos que quem cuida tem que ser forte e que precisará de ajuda no futuro
    [02/04, 09:19] Marcia Mota: Bom, minha experiência foi árdua, fui pega de surpresa a doença de mamãe e no início tive que fazer terapia por não aceitar a doença, passei noites sem dormir e chorava muito. Até que eu assumi a responbilidade total e os cuidados com mamãe, porque não queria perde lá. Apesar que isso é contraditório, pois sei que Alzheimer não tem cura .

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