sábado, 29/03/25
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O amor ainda sabe o caminho

Ilustração/IA

 

Zeugma Santos.

No começo, parece só um esquecimento. Uma palavra trocada. Um nome que não vem. Uma panela no fogo esquecida — o tipo de coisa que pode acontecer com qualquer pessoa cansada ou distraída. Mas, quando começa a se repetir, quando os sinais mudam de tom, alguma coisa lá no fundo já começa a mudar também.

O Alzheimer não avisa. Ele vai ocupando espaço aos poucos, tirando nomes, memórias, depois a fala… e, às vezes, até a paciência da gente. Muita família se irrita sem perceber. Confunde doença com teimosia. E isso dói — em quem cuida e em quem é cuidado. E é aí que, às vezes, alguém mais próximo — um familiar ou amigo com um olhar mais atento — percebe que pode haver algo além e procura ajuda profissional. Foi o que aconteceu neste caso específico: o apoio veio do Sarah, um centro de reabilitação que acolheu, orientou e diagnosticou o Alzheimer. A equipe promoveu encontros online com a família — e com outras famílias também — mostrando que muitos viviam situações parecidas, com reações semelhantes. Isso trouxe compreensão e iniciou um tratamento que envolvia não só o paciente, mas também os que estavam por perto. A partir daí, entrou o cuidado da medicina, com profissionais preparados para caminhar junto.

Depois, os médicos da MedSenior nos deram orientação firme e humana, passo a passo. E tivemos o cuidado incansável da fisioterapeuta Paula, que tratou da minha mãe com dignidade — no corpo e na alma — e acolheu nossa família com o mesmo respeito.

Escrevo isso pra quem está começando a viver o que a gente viveu. Não tem manual. Mas tem afeto, tem troca, tem momentos bons também. Como nas nossas tardes simples em cafeterias, com risos soltos e pão de queijo. Era comum minha mãe terminar de comer e dizer: “Vocês não vão me dar comida? Deus castiga, hein?” E todo mundo ria. Porque, mesmo quando a memória falha, o amor ainda sabe o caminho.

Sou grata à ciência, que continua estudando o Alzheimer, e aos profissionais que, com esse conhecimento, cuidam com empatia. E sou grata a Deus, que deu sabedoria e sensibilidade — a quem cuida, a quem pesquisa e a quem acolhe. Que mais pessoas encontrem esse apoio — no tempo certo, com o coração aberto.

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6 COMENTÁRIOS

  1. Sábias palavras Zeugma. O Alzheimer é uma doença que não tem preconceito quanto ao sexo, cor, religião, situação social. De fato ele aparece sem nos avisar, quando percebemos, descobrimos que já é tarde de mais, que não tem volta. Resta apenas desfrutar o resto da memória que ainda luta para existir. Depois chega na fase em que choramos e rimos pelas situações descontraídas. Realmente é muita luta para os que estão apenas acompanhando, mas é gratificante termos a pessoa ao nosso lado com vida que podemos abraçar, beijar, amar como se não houvesse o amanhã. Mas chega o dia em que Deus recolhe para os seus braços, uma morada que não há sofrimento, lutas, fome. De fato existe tempo para tudo, para se alegrar, chorar, lembrar, viver (Eclesiastes 3:1). É Zeugma, entendo muito bem o que é uma pessoa com Alzheimer, minha sogra. A palavra de Deus nos alerta que somos estrangeiros aqui na terra:1Crônicas 29:14-16, Hebreus 11:13 e Salmos 119:19. A nossa força vem do alto e não da terra e muito menos debaixo da terra (Salmos 121). Assim, continuo em oração e dizendo que ela descansa nos braços do senhor. O choro pode durar uma noite (um tempo), mas a alegria vem pela manhã (Salmos30:5).

  2. “Obrigada ao Planalto em Pauta por essa oportunidade e por esse espaço. Louvo a Deus por essa bênção de ter minha crônica publicada neste jornal. Foi uma forma de homenagear minha mãe e também de reconhecer o trabalho dos profissionais da saúde, dos pesquisadores, das cuidadoras, da fisioterapeuta Paula, do Hospital Sarah e do Hospital MedSenior. Agradeço por esse espaço de amor, memória e gratidão.”

    • Sua crônica é linda e muito tocante. Uma homenagem cheia de amor! E que bom ter espaços como o Planalto em Pauta, que acolhem e valorizam histórias tão especiais como a sua.

  3. Obrigado por compartilhar sua experiência com essa doença que, infelizmente, é tão comum nos dias de hoje. É curioso como, de certa forma, tudo se repete — sempre tem alguém que já viveu algo parecido. Seu relato traz proximidade e nos faz refletir.

  4. Este relato me tocou profundamente. A honestidade com que você descreve a jornada do Alzheimer, desde os primeiros sinais até a busca por apoio, é comovente e inspiradora. Agradeço por compartilhar sua experiência e por destacar a importância do cuidado humanizado, da empatia e do amor nesse processo. Que seu relato sirva de conforto e esperança para outras famílias que enfrentam essa difícil realidade.

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