Miguel Lucena
As pessoas trocam juras de amor e amizade, recorrem aos mais próximos nas horas de aflição, perdem noites nas filas de hospitais socorrendo o familiar e até o vizinho, mas esquecem disso tudo quando uma tal de ideologia política entra em sua vida.
“Ideologia, eu quero uma pra viver!”, dizia Cazuza, criticando o garoto que queria mudar o mundo e depois vivia no “grand monde”, em cima do muro, e lembrando dos heróis que morreram de overdose, drogados, e sem ir ao analista para não esquecer quem eram.
A ideologia não é o real, mas o ideal, é um conjunto de crenças e, portanto, não deveria se limitar à política, feita de alianças conjunturais, nem afastar as pessoas.
Laços familiares estão sendo rompidos porque uma parte da família é Lula e a outra é Bolsonaro. Os critérios de avaliação de caráter agora são ideológicos: dependendo de que lado o sujeito está, ele pode tudo, está perdoado, mesmo que seja um sem-vergonha.
Eu não embarco nessa e não confundo parentesco e amizade com política. Quem condiciona isso a uma exaltação desse ou daquele líder, desse ou daquele partido viajou em outra dimensão e procura lá uma razão para viver.
Ótimo texto.
Parabéns, mais uma vez.