POR PROF. DR. ANDERSON JACOB ROCHA
Em caso de eu lhe perguntar se você conhece Luís de Camões, é muito possível que me achasse uma pessoa chata pela obviedade da questão. Dessa forma, preste a sua atenção nos fragmentos que colocarei abaixo:
“E não de agreste avena, ou frauta ruda” (canto I, verso 5).
“Doenças, frechas, e trovões ardentes” (canto X, verso 46).
“Era este Ingrês potente, e militara” (canto VI, verso 47)
“Nas ilhas de Maldiva, nasce a pranta” (canto X, verso 136).
“Pruma no gorro, um pouco declinada” (canto II, verso 98).
“Onde o profeta jaz, que a lei pubrica” (canto VII, verso 34).
Bem, já deu para perceber que são versos de Camões, não é? Eles vieram da obra “Os Lusíadas”. Já pensou se fosse nos dias de hoje? Alguém poderia fazer a indagação: como pôde Camões escrever frauta, frechas, ingrês, pranta, pruma e pubrica ao invés de flauta, flechas, inglês, planta, pluma e publica? Vamos fazer uma análise, a partir do quadro do Prof. Dr. Marcos Bagno?
Veja:
Em latim, temos: ecclesia, Blasiu, plaga, sclavu e fluxu.
Em francês, temos: église, Blaise, plage, esclave e flou.
Em espanhol, temos: iglesia, Blas, playa, sclavo e flojo.
E, finalmente, em português, temos: igreja, Brás, praia, escravo e frouxo.
O francês, o espanhol e o português vieram do latim. Portanto, se são da mesma origem porque em português há uma diferença na composição das palavras mencionadas? A explicação para isso é que, em Língua Portuguesa, há uma propensão natural na transformação do “L” em “R”, nos encontros consonantais. O nome dessa transformação é “rotacismo”. Dessa maneira, quem diz “frauta” no lugar de “flauta” entra nesse fenômeno linguístico que é natural na nossa língua. Mais que isso, a naturalidade disso está no fato de que a origem da palavra é justamente “frauta”.
Pode ser que você esteja se perguntando: então, quer dizer que podemos usar “frauta” ao invés de “flauta”? Em relação ao nosso convívio social mais formalizado, falado e escrito, está claro que não. O que precisamos deixar claro é que só não podemos ridicularizar as pessoas que falam desse modo, pois podemos levantar, pelos menos, dois motivos: as que fazem o rotacismo pode ter algum problema de dicção e, por isso, pela naturalidade e maior facilidade, pronunciam o “R” no lugar do “L”. Também, há as pessoas que possuem nível escolar mais baixo que outras. Nesse caso, o modo natural do rotacismo pode prevalecer. Gostou de saber dessa particularidade de nossa língua?
PROF. DR. ANDERSON JACOB ROCHA. Autor do livro: A Linguagem da Felicidade. Instagram: @prof_andersonjacob. Youtube: Prof.Dr. Anderson Jacob