Com o início do período das chuvas e a interferência do calor das últimas semanas, o brasiliense pode começar a preparar o bolso para gastar mais com alimentos tradicionais nas mesas das famílias. A tendência é de que a oferta de itens como folhagens, tomate, cebola e batata diminua e, consequentemente, os valores subam, na contramão do que ocorreu nos últimos meses. Em setembro, por exemplo, o Índice Ceasa do Distrito Federal (ICDF) registrou redução de 6,22% na média dos valores dos 66 alimentos — entre frutas, verduras, legumes, grãos e ovos — considerados na relação.
A variação de preços entre a primeira e a segunda semana de outubro reflete as mudanças do tempo no DF. O quilo do tomate, segundo dados das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa/DF), passou a custar R$ 2,50 (alta de 136%). Assim como aconteceu com itens semelhantes — pimentão, berinjela, jiló e chuchu —, o tomate precisou ser colhido antecipadamente, devido aos picos de calor, e vendido às pressas em setembro.
No mês passado, o consumidor pagou, em média, 22,82% a menos pelo produto, se comparado a agosto. A batata, que custou 26,48% a menos em setembro, atualmente é vendida por R$ 2,60 o quilo — um aumento de 15%. Folhagens, tomate, beterraba, quiabo, couve-flor e batata-lisa têm apresentado variações na colheita e, consequentemente, devem sofrer alta nos preços até o fim do ano. Na tentativa de economizar, Francismar de Macedo, 34 anos, e Neidson Lopes, 29, escolhem o Ceasa/DF para fazer as compras do restaurante que administram. “Aqui, o preço é melhor e nunca falta. Alguns alimentos são indispensáveis, pois estão no cardápio. Mas chegamos a pagar 20% a menos do que no mercado”, compara Francismar.
Oferta
A alta das temperaturas em setembro também provocou queda no preço de alimentos, como mamão, melancia, coco-verde e abacaxi, em relação a agosto. Blaiton Carvalho da Silva, gerente de comercialização da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater/DF), comenta a colheita antecipada devido ao calor: “O fator climático e a baixa umidade causaram o amadurecimento precoce das frutas. Elas tiveram uma larga oferta no mês passado e continuam em alta esta semana, mas, logo, se tornarão escassas”, prevê o técnico agrário.
Fora as frutas, os legumes tiveram peso na diminuição dos preços dos itens do ICDF. Juntos, representam 91% da oferta do Ceasa/DF. Para economizar e ainda variar os produtos da mesa, a professora aposentada Valdecina Ferreira, 56, acredita que acompanhar as variações é crucial. “Dou preferência às frutas da estação, porque, além de mais baratas, estão gostosas”, comenta a moradora de Vicente Pires.
No cálculo nacional, o valor da cesta básica fechou setembro em R$ 420,01 — 3,10% a menos que agosto e 7,66% a mais que em setembro do ano passado, quando custava R$ 390. Entre os meses considerados, o custo total registrou queda em 16 cidades, de acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). As baixas mais expressivas ocorreram em Fortaleza (-4,63%), Curitiba (-3,73%) e Brasília (-3,10%). Recife registrou a única alta (1,53%).
Oscilação
A expectativa para este trimestre é de que a variação de preços acumulada chegue a 12%. Em dezembro, o período festivo aumenta a procura por alimentos específicos, fator que pode fazer com que os preços subam o dobro em relação a outubro e novembro. Mesmo assim, o mercado está otimista em relação às vendas deste ano, devido à inflação menor, ao pagamento do 13º salário e à liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Os três últimos meses deste ano devem contar com mais variações semanais nos preços de itens da cesta básica. Para evitar gastos inesperados, a dica é acompanhar promoções diariamente e investir em produtos da estação, como manga, melancia e abóbora. Grãos e alimentos granjeiros tendem a não sofrer tanto os efeitos da oscilação.
Devido às chuvas, é comum haver mais custos com produção (gastos com estufas e adubo, por exemplo), maior incidência de pragas e perda de safras, fatores que diminuem a oferta. Apesar disso, a média de produção mensal deve fechar 2019 em 28,3 mil toneladas, 1,9 mil toneladas a mais que no ano passado, segundo previsão da Ceasa/DF.
Produtora de Brazlândia, Rumiko Okamoto, 41, comenta que, no período chuvoso, opta pelo plantio em túneis cobertos ou estufas. “São estratégias para controlar as pragas que aumentam nessa época e evitar que o vento, a água e o granizo danifiquem as produções. Esse cultivo protegido acaba sendo mais caro para nós, pois nem todos têm condição de fazer esse investimento; então, diminui a oferta. Mas não dá para repassar tudo ao consumidor, senão as pessoas deixam de comprar”, avalia Rumiko.
Variação de preço
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de Brasília, em setembro, variou -0,17% em relação a agosto, quando havia registrado 0,08%. Essa foi a terceira maior deflação entre as 16 regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e reduziu o acumulado do ano para 1,8%. O grupo de alimentação e bebidas foi responsável pela redução de 0,47% no índice, causando impacto de 0,1 ponto percentual negativo. No Brasil, o comparativo entre setembro e agosto ficou em -0,04%, e o acumulado nacional do ano está em 2,49%.
Na ponta do lápis
Condições climáticas, como picos de calor e chuvas, interferem na colheita de determinados produtos. Confira alguns alimentos que devem encarecer ou baratear no último trimestre de 2019
Mais caro
» Folhagens em geral
» Tomate
» Pimentão
» Batata
» Morango
» Mamão
» Tangerina
» Limão
Mais barato
» Melancia
» Manga
» Melão
» Uva
» Ameixa
» Abacaxi
» Abóbora
» Pepino