Com construção iniciada em 2011 e custo total de R$ 440 milhões, sistema de captação e tratamento de água entrou em funcionamento nessa quarta-feira (6/4). Atendimento deve alcançar 1,3 milhão de pessoas, em oito cidades do DF e do Entorno
Megaestrutura entrou em atividade nessa quarta-feira (6/4), em Valparaíso (GO) – (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Com previsão de funcionar por 10 anos, no mínimo, o Sistema Produtor Corumbá IV teve as obras concluídas. A construção do sistema, que abastecerá áreas da região Sul do Distrito Federal e do Entorno, começou em 2011. De lá para cá, continuou ao longo de diferentes gestões até ser inaugurado nessa quarta-feira (6/4), pelos governadores do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e de Goiás, Ronaldo Caiado (UB). A promessa é de que a megaestrutura para captação de água impeça a capital do país de enfrentar, por enquanto, outra crise hídrica, como a vivida pelos brasilienses entre 2016 e 2018.
A obra de R$ 440 milhões se deu por meio de parceria entre as companhias de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb) e de Saneamento de Goiás (Saneago). O sistema tem capacidade de vazão de 2,8 mil litros por segundo de água tratada, para cerca de 1,3 milhão de moradores. Para efeito de comparação, a média na Estação de Tratamento do Rio Descoberto, a principal a atender o DF, era de 4 mil l/s em 2020. Com um modelo de vazão em duas fases, o volume máximo de abastecimento pelo Corumbá IV pode chegar a 5,6 mil l/s, e cada unidade federativa receberá metade do total gerado.
A estrutura inclui uma estação de tratamento e uma elevatória de água bruta, adutoras, linhas de transmissão e subestações elétricas de 138 mil volts. A expectativa é de que o excedente da produção desafogue o Sistema Produtor Descoberto, o que beneficiaria moradores de Águas Lindas (GO) e da parte Oeste do DF.
Apesar de terem trocado ofensas em ocasiões anteriores, Ibaneis e Caiado mudaram o tom no palanque, nessa quarta-feira (6/4), no evento de lançamento do Corumbá IV, em Valparaíso (GO). Desta vez, com discursos mais sintonizados, os governantes comemoraram o resultado da cooperação entre estatais das duas unidades federativas. “Este momento é de muita alegria, porque mostra que vale a pena trabalhar com uma parceria que vai beneficiar 1,3 milhão de pessoas”, declarou o chefe do Palácio do Buriti.
O responsável pelo Poder Executivo goiano acrescentou que o sistema levará segurança hídrica para moradores das regiões atendidas. “Tenho certeza de que nós dois (os governadores) entramos para a história dessa população, e isso será lembrado por muitos e muitos anos, porque estamos dando o que a população mais merece: saneamento, água de qualidade e a certeza de que poderão se desenvolver, tanto na área habitacional quanto na área industrial”, completou Caiado.
Histórico
Presidente da Saneago, Ricardo Soavinski comentou que o sistema está pronto para pleno funcionamento. “Teremos um volume maior de oferta de água, com mais qualidade, menos intermitências e possibilitando desenvolver essas cidades em uma década, com uma possível bifurcação”, disse, em referência a uma nova unidade para captação de água. A licitação para construção de outra adutora, com previsão de sair no segundo semestre deste ano, permitiria abastecer mais regiões administrativas do DF, como São Sebastião e Jardim Botânico.
Pedro Cardoso, presidente da Caesb, lembrou que a inclusão dessas cidades faz parte do projeto original de Corumbá IV. “Para Brasília, a implantação do sistema favorece a segurança hídrica e (a captação gerada) será inserida nos nossos dois grandes centros (de abastecimento): Santa Maria-Torto e Descoberto”, antecipou.
Apesar de a primeira etapa de construção do sistema ter começado há mais de uma década, a conclusão da empreitada se transformou em uma das principais metas de governo enquanto o DF passava por 514 dias de racionamento hídrico. Após três anos parados, os trabalhos foram retomados em 2017. Naquele ano, os volumes dos reservatórios de água da capital federal chegaram aos níveis mais baixos da história: 5,3%, no Descoberto, e 12,2% (Santa Maria).
O projeto foi anunciado nos anos 2000, na gestão de Joaquim Roriz. No entanto, ao longo do tempo, enfrentou entraves, como suspeitas de superfaturamento, desistência de empresas contratadas e atrasos por questões fundiárias. Há três anos, a promessa era de que o sistema atenderia mais de 2,5 milhões de pessoas de 13 cidades e que garantiria o fornecimento de água por 30 anos.
Outra questão polêmica teve relação com a falta de fiscalização quanto à preservação das nascentes que abastecem o reservatório de Luziânia. Em 2016, segundo relatório do projeto Água Viva, produzido pela Corumbá Concessões — responsável pela Usina Hidrelétrica de Corumbá IV —, apenas três de 40 delas estavam preservadas, sem problemas como ocupação irregular do solo, desmatamento e descarte de lixo, segundo detalhado pelo Correio em reportagem publicada à época.
Professor de engenharia civil e ambiental na Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Koide destacou que a construção envolveu grande soma de dinheiro público e acredita que as despesas operacionais também serão elevadas. “Essa é uma excelente solução para a região do Entorno, mas, para o DF, seria melhor se tivéssemos pegado uma estrutura mais próxima. Teríamos menos gastos com bombeamento, por exemplo, que é um dos maiores custos na produção de água potável”, avaliou. “Para os municípios vizinhos, esse bombeamento será relativamente pequeno. Mas, até chegar ao sul do DF, o custo de energia ficará maior.”
Com informações do Correio*