
Miguel Lucena
O imbróglio começou quando uma marca famosa resolveu ensaiar passos atrás no palco da publicidade. Cancelou discurso, retirou atriz, explicou-se em notas mornas — e descobriu, tardiamente, que sandália não gosta de bastidor. Sandália gosta de chão.
Enquanto o marketing tropeçava em conceitos, havia pés anônimos caminhando a cidade, enfrentando calçada quente, ônibus lotado e realidade sem filtro. A propaganda que incomoda não é a que fala demais; é a que finge não pisar onde o povo pisa.
Entre o glamour e a borracha, venceu a borracha: humilde, resistente, democrática. No fim, ficou claro que há pés que interpretam papéis — e há pés que, sem texto nem holofote, sustentam o mundo todos os dias.


