Maria José Rocha Lima*
Seminário Internacional sobre a Primeira Infância, em Brasília, promovido pelo Ministério da Cidadania e Desenvolvimento Social, tendo à frente o ministro Osmar Terra, reuniu especialistas em primeira infância para compartilhar e debater ações voltadas ao desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida. Os cientistas de várias partes do mundo foram unânimes na afirmação de que o destino de uma criança e de uma nação dependem do atendimento suficientemente bom nos primeiros mil dias.
Estudos mais recentes revelam que ao bebê humano não basta a nutrição. O bebê não nasce pronto. Por isto, o olho no olho, o abraço, o carinho e a conversa dos pais com o bebê são atitudes simples que fortalecem todas as estruturas neurais da criança. Diferentemente dos animais, que nascem com um arsenal de instintos, o ser humano é o único precisa ser educado.
Os estudos evidenciam que o futuro de uma criança e conseqüentemente de uma nação depende dos cuidados e educação da criança ao nascer. Os primeiros anos de vida de uma criança são particularmente importantes. No campo da Neurociência, o cientista Jack Shonkoff(2016), do Centro de Desenvolvimento Infantil, da Universidade de Harvard, estudou um fenômeno chamado plasticidade cerebral, que ele descreveu como a capacidade do cérebro de ser flexível e adaptável e como ele pode reajustar-se para assumir novos desafios. Para ele, a plasticidade do cérebro está em níveis ótimos no nascimento e na primeira infância.
É dele a afirmação de que o bebê ao nascer tem no cérebro todos esses neurônios, mas pouquíssimas conexões, pouquíssimos circuitos. Esses circuitos são rapidamente desenvolvidos nos primeiros anos de vida. O neurocientista afirma que de 700 a mil novas sinapses são formadas a cada segundo no cérebro de um bebê. São muitas sinapses e se formam numa velocidade impressionante.
Os primeiros mil dias de vida são determinantes para o futuro. É nesse período, que vai da gravidez até o bebê completar 3 anos de idade, que os sistemas nervoso e imunológico se desenvolvem. (SHONKOFF).
Não é com alegria que os neurocientistas informam a triste realidade da biologia, determinando que a capacidade de mudar seus circuitos neurais diminuem com a idade. A sabedoria popular já dizia que “papagaio velho não aprende a falar”.
Evidências dessa importância continuam a se mostrar cada vez mais com os avanços teóricos apoiados pelos dados empíricos de muitas disciplinas, por exemplo: Neurociências, Ciências Sociais, Psicologia, Economia e Educação.
O prêmio Nobel de Economia, James Heckman(2016), realizou um estudo de caso sobre a importância dos primeiros anos de vida das crianças, evidenciando serem um período crítico para a formação de habilidades e capacidades e serem determinantes para os resultados do ciclo de vida.
Estudos sobre a formação de habilidades mostram que o retorno dos investimentos na escolarização é mais alto para as pessoas com habilidades mais altas, quando essas habilidades são formadas mais cedo. Heckman(2016) conclui que as capacidades não estão definidas ao nascer ou são apenas determinadas geneticamente, mas são afetadas causalmente pelo investimento dos pais em suas crianças e que uma medida apropriada de desvantagem está mais relacionada à falta de qualidade do cuidado oferecido pelos pais, do vínculo, da consistência e da supervisão, que da renda familiar por si só.
O seminário foi prestigiado pela primeira dama Michele Bolsonaro, que compôs várias mesas e acompanhou o evento do início ao fim; pelas primeiras damas do Distrito Federal, Mayara Noronha; de Alagoas, Renata Calheiros, e do Ceará, Onélia Santana. Também participaram governadores, prefeitos, secretários de estado e gestores.
A programação contou ainda com a participação da assessora do China Development Research Foundation e de desenvolvimento infantil do Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, Mary E. Young; da diretora da Fundação Bernard Van Leer, Cecilia Vaca Jones; do assessor de economia do Departamento Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Norbert Schady, entre outros.
A Secretaria Nacional de Desenvolvimento Social, comandada pelo Secretário Lelo Coimbra, fortalecerá os investimentos em Programas pela Primeira Infância, Desenvolvimento Infantil, Assistência Social, BPC. O Programa Criança Feliz tem como meta visitar 1(um) milhão de famílias até o final de 2019 e foi avaliado pelos especialistas e pesquisadores internacionais, que acompanharam visita domiciliar.
Dana Landau, pesquisadora americana e diretora do Programa de Implante Coclear Pediátrico da Universidade de Chicago, que abriu o Seminário Internacional da Primeira Infância, afirmou que o Criança Feliz irá impactar o Brasil e o mundo.
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em Educação. Ex-deputada pela Bahia (1991 A 1999), é fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira em Brasília.