Nísia Trindade promete mobilizar a sociedade num esforço nacional para facilitar o acesso das famílias e das crianças ao Programa Nacional de Imunização
Nísia Trindade Lima, a primeira mulher a assumir o Ministério da Saúde, prometeu ontem, ao ser anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como nova ocupante da pasta, fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa Nacional de Imunização (PNI). “No início do ano, já estaremos com estas metas anunciadas”, afirmou. A futura ministra antecipou que o PNI se tornará um departamento e que pensará “a imunização como um esforço nacional, que vai passar pela Saúde, pelas escolas, pela área de Desenvolvimento Social”. “Sabemos que uma melhoria na gestão e facilitar o acesso das pessoas e famílias que levam as crianças é um elemento muito importante nesse processo, então esse vai ser nosso olhar”, disse.
O posicionamento vem em meio a um contexto preocupante, em especial para as crianças. Segundo análise do Observatório de Saúde na Infância da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a vacina BCG, que protege contra a tuberculose provocada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, é a única do calendário infantil que bateu a meta de cobertura em 2022. Imunizantes aplicados após um ano de idade, como a tríplice viral, contra sarampo, caxumba e rubéola, a tetra viral e a vacina contra hepatite A, configuram uma cobertura de menos de 50% da população-alvo. “O Zé Gotinha que está aqui como símbolo vai nos acompanhar aí por um bom tempo”, afirmou Nísia Trindade.
A tarefa da ministra não será fácil. Pelo levantamento do Grupo de Trabalho da Saúde do gabinete de transição, além da grave crise sanitária causada pela pandemia de covid-19, que causou quase 700 mil mortes, e da redução significativa da cobertura vacinal de diversos imunizantes, foi identificada uma queda acentuada de consultas, cirurgias, procedimentos diagnósticos e terapêuticos realizados pelo SUS.
“A prioridade é usar todo o potencial do SUS, tanto os serviços próprios como também toda a área que envolve os hospitais filantrópicos, que respondem hoje por 50% das internações do sistema público, além do setor privado, para um grande esforço. Não de acabar com uma fila, mas de colocarmos critérios, indicarmos e sinalizarmos encaminhamentos de prioridade, darmos transparência a esse processo e atuarmos na regulação”, assinalou.
Outro aspecto que deve trazer dores de cabeça à nova gestão está no “apagão de dados” que ocorreu nos sistemas do Ministério da Saúde, após um ataque hacker em dezembro de 2021. A recuperação do sistema de informações é um dos focos do trabalho para a nova gestão não agir às cegas.
“Há muitos dados fundamentais, como os de vacinação. Dados que precisamos ter até uma ação que vinha sendo feita, e eu acompanhei de perto, que é o monitoramento da efetividade das vacinas, por exemplo a da covid-19, mas não só”, observa. “Isso é fundamental em todas as áreas e na saúde nem se fala. Tivemos, inclusive, dificuldades até porque existe a determinação de sigilo de dados de estoque de vacinas, medicamentos. Então vamos lidar com a checagem dessas informações para um planejamento adequado.”