Após quase três meses presos, seis investigados na operação Falso Negativo deixaram o Complexo Penitenciário da Papuda na madrugada desta terça-feira (17). O grupo, que integrava a cúpula da Secretaria de Saúde, é investigado fraudes na compra de testes para Covid-19.
Entre os réus que deixaram o presídio está o ex-secretário de Saúde Francisco Araújo (veja lista completa abaixo). O grupo deixou a penitenciária por volta de 1h, após decisão da 5ª Vara Criminal de Brasília.
Ao sair da Papuda, o grupo seguiu para o Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (Cime), onde recebeu tornozeleiras eletrônicas.
Deixaram a prisão:
- Francisco Araújo: ex-secretário de Saúde do DF
- Eduardo Seara Machado Pojo do Rego: ex-secretário adjunto de Gestão em Saúde do DF
- Iohan Andrade Struck: ex-subsecretário de Administração Geral da SES-DF
- Jorge Antônio Chamon Júnior: ex-diretor do Laboratório Central do DF
- Ramon Santana Lopes Azevedo: ex-assessor especial da SES-DF
- Emmanuel de Oliveira Carneiro: ex-diretor de Aquisições Especiais da Secretaria de Saúde.
Familiares e advogados dos acusados estavam em frente à Papuda desde as 22h, aguardando a saída deles. A reportagem acompanhou o momento que o grupo deixou o presídio.
Nas filmagens, é possível ver Francisco Araújo comemorando a saída da prisão. Ele abraça outras pessoas que estavam com ele, inclusive outros companheiros de cárcere.
Decisão
A decisão de soltura é da juíza Ana Cláudia de Oliveira Costa Barreto. Na ordem, ela afirma que os acusados estão presos há quase três meses e, nesse período, nem todos os réus foram citados no processo, o que configura “excesso de prazo na instrução criminal, impondo-se a revogação das prisões”.
Apesar de determinar a soltura dos réus, a magistrada ordenou que eles usem tornozeleira eletrônica por seis meses e fiquem apenas em um raio de 300 metros de casa e da sede do Tribunal de Justiça do DF. Também devem cumprir as seguintes medidas cautelares:
- Proibição de manter contato com demais investigados, com os funcionários da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e também com quaisquer prepostos, responsáveis ou contratados das empresas envolvidas nesta Operação Falso Negativo;
- Proibição de sair do Distrito Federal, salvo mediante autorização judicial e justificativa demonstrando a sua imprescindibilidade;
- Proibição de ingresso em quaisquer órgãos públicos do Distrito Federal sem prévia autorização judicial, salvo as unidades do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, em que oportunamente deverá comparecer quando isso vier a ser determinado.
O Ministério Público do DF, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), disse que “desde o início da Operação Falso Negativo, vem cumprindo todos os prazos legais”.
“A decisão da 5ª Vara Criminal de Brasília de revogar, nesta segunda-feira, 16 de novembro, a prisão preventiva dos réus por excesso de prazo não está relacionada à atuação dos promotores no caso. Cabe recurso da decisão.”
Operação Falso Negativo
Ao todo, oito gestores da cúpula da Secretaria de Saúde foram presos no âmbito da operação Falso Negativo. Além dos seis que tiveram a soltura determinada nesta segunda-feira (16), dois já haviam conseguido a liberdade.
O Ministério Público do DF acusa o grupo de orquestrar fraudes em quatro contratos da Secretaria de Saúde para compra de testes do novo coronavírus. Os promotores acusam o ex-secretário Francisco Araújo de “capitanear a organização criminosa” que favorecia empresas nas licitações.
Entre as irregularidades apontadas estão: superfaturamento, prazos inexequíveis para apresentação de propostas e desvio de recursos públicos. O prejuízo estimado é de, pelo menos, R$ 18 milhões. Os réus negam irregularidades.
Em 25 de setembro, a Justiça aceitou denúncia contra 15 investigados na operação. Além dos oito que foram presos, a ex-gerente de Aquisições Especiais da SES-DF, Erika Mesquita Teixeira, virou ré, assim como seis representantes das empresas que, segundo o MPDFT, foram beneficiadas no esquema.
O que dizem as defesas
- Francisco Araújo:
“A defesa do ex-secretário de saúde sempre defendeu que outras medidas cautelares seriam suficientes para o caso, o que finalmente foi reconhecido pelo Poder Judiciário.”
- Iohan Struck:
“Segundo a defesa de Iohan, a manutenção da prisão desses acusados acabava por ser constrangimento ilegal, quando outros réus, residentes em outros estados do Brasil, sequer foram comunicados formalmente a responder a ação na justiça. Disse ainda que Iohan, assim como os outros réus, utilizará tornozeleira eletrônica, entre outras restrições.”
- Eduardo Seara Machado Pojo do Rego:
“A defesa de Eduardo Pojo entende que a Justiça reconhece que não há risco para o processo em mantê-lo solto. E informa que ele segue à disposição para esclarecer como sua atuação sempre foi técnica e colaborar com informações relevantes sobre os fatos.”
- Ramon Santana Lopes Azevedo
“Ramon Santana teve a prisão preventiva revogada pela Juíza de Direito da Quinta Vara Criminal de Brasília. A decisão considerou a existência de excesso de prazo na instrução processual porque, decorridos quase 3 meses da prisão, ainda não haviam sido citados todos os réus. A defesa de Ramon tem convicção que seu cliente será absolvido porque, nenhuma das acusações feitas contra ele constitui crime. Ramon atuou para agilizar a aquisição de testes para a COVID 19 pela Secretaria de Saúde. Ele não ocupava cargo de direção, não tratava de preço nem de contratação.