Maria José Rocha Lima[1]
Embora não saibamos o motivo do assassinato da professora, julgamos oportuno discutir o abandono da escola pública em quase todo o país. A notícia de que um aluno de 13 anos matou a professora de 71 e deixou cinco feridos em escola de SP deixa a todos nós abalados.
O caso ocorreu na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia. A professora assassinada é Elizabeth Tenreiro. E as três professoras feridas são Ana Célia Rosa, Jane Gasperine e Rita de Cássia Reis. Dois alunos também foram feridos.
Há cinco anos, um amigo aprovado em concurso público em escola pública de São Paulo abandonou o cargo sentindo-se ameaçado com a presença de traficantes e conflitos deles dentro da sala de aula.
Como podemos querer uma carreira do magistério atrativa para bons profissionais permitindo que a violência se alastre nas escolas públicas, transformando o magistério em atividade perigosa?
Esse amigo era mestrando da USP, ex – secretário de educação em cidade da Paraíba, tinha sido consultor da Unesco, portanto um profissional altamente qualificado. Como manter professores qualificados em escolas expostas à violência, sem falar que muitas destas são sujas, desorganizadas, mal iluminadas, funcionando muitas vezes em locais inóspitos e atraindo criminosos.
Não podemos abrir mão da visão – embora idealizada – da escola como lugar de inocência, proteção, socialização e para a promoção de relações cordiais e democráticas. Os índices crescentes de violência e de criminalidade afetam fortemente o cotidiano escolar, abalam a confiança dos professores e dos pais em relação à escola.
Ensinar em escola pública é uma atividade altamente arriscada. Ao mandarem os filhos para a escola, os pais não têm a certeza de que eles voltarão incólumes.
A violência compromete o ensino e a aprendizagem, enfim, o sucesso escolar dos professores e dos alunos. Há alguns anos tive acesso a um estudo da Polícia Civil do DF que revelava índices elevados de violência no interior da escola, e concluía que a presença de traficantes e outros bandidos na escola era maior em escolas mal cuidadas, sem iluminação adequada. Para os pesquisadores, isto indicava que aquela escola não tinha direção e comunidade prestigiada pelos poderes públicos.
Para alcançarmos uma escola pública de qualidade, precisamos proteger professores, funcionários e alunos, colocando detectores de metais na entrada, bons e preparados profissionais nas portarias. Só assim teremos uma política pública de segurança na escola que enfrente a crescente violência; que proteja e guarde os professores, funcionários e alunos; que preserve a inocência dos estudantes e que ensine de verdade a todos. Ninguém ensina nem aprende com medo.
[1] Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International SI Brasília Sudoeste. Sócia Benemérita da Hora da Criança.