Distribuidoras fazem alerta sobre risco de desabastecimento. Falta de produtos preocupa também o setor de alimentos
Em meio à perspectiva de desabastecimento à população em consequência dos bloqueios ilegais de rodovias, o aumento no preço da gasolina já é uma realidade para os consumidores. O servidor público Eric Brandão notou que nos últimos dias, o posto em que costuma abastecer o carro, na primeira avenida do Sudoeste, aumentou o litro do produto em R$ 0,20. “Temos que aguardar para ver como é que fica, se o pessoal vai continuar bloqueando a estrada ou se vai liberar”, disse Brandão, que encheu o tanque também para se precaver da eventual falta de combustível no Distrito Federal.
José Augusto da Silva Lima, frentista de um posto no Setor Gráfico, relata que, lá, o aumento foi um pouco maior: o combustível passou de R$ 4,98 para R$ 5,27. “O que a gente ouviu falar é que esse aumento é porque estavam com medo de faltar aqui no DF”, relatou o frentista, que acredita que o combustível seguirá encarecendo.
O engenheiro agrônomo Hyan Canales afirmou que ainda não tem receio do desabastecimento, mas que nota o aumento dos preços. Ontem, ele pagou R$ 5,39 pelo litro da gasolina. “A gente tem que procurar as promoções dos aplicativos, os postos que a gente já conhece que tem desconto melhor, e vamos trabalhando assim.” O dentista Wilson Alves Lopes acredita que as manifestações não devem permanecer por muito tempo. “Esse protesto daqui a pouco acaba. Como a gente pode ver, os caminhoneiros são contra. Acho que não vai pra frente não”, opinou.
A Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Biocombustíveis e Gás Natural (Brasilcom) emitiu nota, ontem, alertando para o risco de desabastecimento em consequência das manifestações que vêm sendo realizadas em diversos estados. “A Brasilcom recomenda ações coordenadas das autoridades responsáveis, para o urgente desbloqueio das estradas e, onde necessário, proteger e acompanhar o deslocamento do transporte de combustíveis, visando assegurar o abastecimento de postos revendedores, supermercados e de hospitais, principais prejudicados pelas interrupções de fornecimento”, diz a nota.
Em Limeira (SP), o prefeito Mario Botion decretou situação de emergência pública no município devido à escassez de oferta de combustíveis em postos de abastecimento. A decisão determina que os postos reservem ao menos 5% do combustível (gasolina, etanol e diesel) disponível para a venda aos veículos da frota municipal que realizam serviços essenciais.
A preocupação é grande também no setor de alimentos. Segundo a Associação Nacional dos Supermercados (Abras), cerca de 70% dos associados, principalmente empresas de pequeno porte, já enfrentam problemas de abastecimento de alguns produtos. Em Santa Catarina, há notícias de paralisação de frigoríficos e da produção de leite.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostrou preocupação com o acesso da população a medicamentos. “Já preocupa o risco de desabastecimento, passível de gerar impactos na cadeia de suprimentos de saúde, caso não se efetive um pronto restabelecimento do transporte correlato ao tema. É mister assegurar o ir e vir de pessoas e cargas, como fator sustentador de uma oferta constante e fluida de produtos e serviços de saúde, num cenário sanitário, ainda com incertezas”, afirmou a agência, em nota.