Maria José Rocha Lima
O presidente Jair Bolsonaro publicou, no twiter, na última quarta feira, 13/02, que “todos os patrocínios da Petrobrás estão sob revisão, objetivando enfoque principal na educação infantil e Orquestra Petrobrás.” A educação dos menorzinhos, a educação na mais tenra idade, a educação desde a Primeira Infância é uma das ações mais poderosas para interromper o ciclo perverso da violência no país.
O direito à educação infantil de qualidade é uma das mais elevadas demandas da atualidade. As conseqüências dramáticas do abuso, da negligência e do abandono das crianças das classes populares são gritantes. Por isso, a notícia da Petrobrás de que irá priorizar a educação infantil reverberou em colunas, jornais e programas televisivos.
O novo presidente da empresa, Roberto Castello Branco, adiantou que pretende concentrar os patrocínios num projeto de educação infantil, priorizando o atendimento para crianças de comunidades pobres das regiões onde a Petrobrás tem unidades de produção. Nada mais justo para o povo brasileiro, que detém 60% dos ativos da empresa e vivencia a tremenda humilhação pelos desperdícios e corrupção desenfreada nos últimos anos. Estudos sobre educação infantil, como os da Universidade de Harvard, revelam que as experiências nessa fase da vida são persistentes e duradouras, influenciando o ciclo de vida total; a elevada capacidade e plasticidade do cérebro em formação das funções cognitivas e demais funções; nessa fase não há conflitos entre meritocracia e igualdade de oportunidades, o que nivela os pontos de partida e dá igualdade de oportunidades; todas as crianças são similarmente talentosas na Primeira Infância. Portanto, os investimentos na educação infantil repercutem para o resto da vida.
O filósofo Immanuel Kant, na sua obra Sobre a Pedagogia, afirma que “o homem é a única criatura que precisa ser educada.” Kant compara o ser humano em relação aos demais animais e constata que estes precisam basicamente da nutrição, mas não maiores cuidados, uma vez que seu instinto os capacita desde cedo à sobrevivência. Nós, seres humanos, precisamos da educação exatamente porque somos humanos e não temos inscritos geneticamente os comportamentos, como os outros animais, cuja finalidade da existência está pré-estabelecida, conforme a natureza. Por esta falta de inscrição genética ou instintos, a educação torna-se uma imposição, sem ela teríamos que começar sempre do zero. Não é demais lembrarmos que os fatores que tiveram papel preponderante na evolução do homem foram a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de todos os seres humanos. Dito de outra forma, a criança ao nascer está apta a aprender, a ser socializada em qualquer cultura. Esta possibilidade, entretanto, se realizará ou não, dependendo do contexto onde ela crescer. Se por um lado os períodos sensíveis permitem a construção ótima de habilidades, por outro são uma grande janela de vulnerabilidade a potenciais efeitos nocivos do meio. Qualquer criança humana normal pode ser educada, em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado. Para além da diferença de classe, a raiz da desigualdade social se realiza na diferença de cuidados e educação ao nascer. Em qualquer cultura todas as crianças pequenas têm de ter as mesmas condições: direito ao pré-natal; direito à amamentação; direito ao abraço, que ampara e molda; direito ao olhar da mãe, que gera confiança; direito ao atendimento quando sente fome e frio, o que as faz acreditar no outro e ter fé na vida. Os cuidados e educação ao nascer fazem uma diferença fundamental. Então uma criança negligenciada, abusada nos primeiros anos, vai ter dificuldade pelo resto da vida, muitas terão dificuldade de aprendizagem, dentre outras dificuldades que poderiam ser evitadas.
Pela educação dos menorzinhos, para não precisarmos reduzir a maioridade penal!
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada estadual da Bahia entre 1991- 1999. É fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.