Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras
A educação básica em nosso país sofreu uma queda sensível no trato das Artes.
Deixamos de cuidar adequadamente da educação artística, que já foi uma prioridade
em nossos currículos.
Lembro quando frequentava as aulas de Desenho, no ensino de 1º grau, depois
enriquecido com o que chamávamos de Desenho Geométrico. Foi com essa matéria
que me destaquei no Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, quando fui convidado para fazer parte do
seu corpo docente. Tinha um prazer imenso de dar essas aulas, em que podia
demonstrar os meus conhecimentos matemáticos.
Depois, veio o tempo da educação artística, de grande popularidade entre os
currículos escolares. Mas não houve constância por parte do governo federal. Desde
2011, em dez anos, o orçamento destinado à cultura caiu quase pela metade. De 3,34
bilhões de reais passou para 1,77 bilhão. Os dados estão disponíveis no “Siga Brasil”,
plataforma gratuita de informações sobre o governo federal. E tem mais: saímos de
um Ministério da Cultura para ser uma área de secretaria especial do Ministério do
Turismo. Entenderam isso?
Migramos de uma área estratégica no Governo Lula, por exemplo, para virar
uma repartição inexpressiva, com uma drástica redução de investimentos. E a
Secretaria de Cultura é como se não existisse. A outrora importante Comissão Nacional
de Incentivo à Cultura, que decidia sobre o financiamento dos projetos candidatos aos
benefícios da Lei Rouanet, está desativada desde abril, sem que se tenha alguma
notícia sobre o seu futuro.
Essa desordem justifica tragédias como o incêndio da Cinemateca Brasileira da
Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo. Foram incineradas quatro toneladas de
documentos relativos ao cinema brasileiro. É uma perda irrecuperável.
A cultura é o único setor econômico que impacta todos os outros, alavancando
negócios e gerando renda nas mais diversas áreas. Todos os setores sofrem impactos
com a redução do investimento na área.
Somos um país de imensa riqueza cultural. É estranho que o Brasil, com a sua
grandeza, não tenha até hoje conquistado um Prêmio Nobel. Se podemos utilizar uma
expressão futebolística, “mas bateu na trave”. Numa das ocasiões foi com o nome de
Josué de Castro, médico e cientista pernambucano, autor do clássico “Geografia da
Fome”, que foi presidente do Conselho da FAO (Organização para Alimentação e
Agricultura das Nações Unidas), de 1952 a 1956, com sede em Genebra (Suíça).
O campo das Artes enseja grande interesse por parte dos estudantes e deve ser
novamente prioritário, na educação básica. Há um terreno imenso para despertar o
interesse dos jovens pela nossa cultura artística.