O número de líderes globais confirmados ainda é mantido em sigilo pelo governo brasileiro, que promove a COP-30

As delegações dos Estados Unidos e da Argentina se ausentaram, mais uma vez, dos debates prévios à COP-30. Os dois países não compareceram à reunião pré-COP que ocorre nesta segunda e terça-feira, 13 e 14, em Brasília – a última etapa prévia à conferência em Belém (PA). Ao todo, ministros e representantes diplomáticos de 67 países participam (lista abaixo).
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que convidou todos os chefes de Estado e de governo a Belém – e reiterado o convite a Trump em chamada telefônica há uma semana – a chance de presença do presidente dos Estados Unidos é considerada mais do que remota. Milei também não deve aparecer na Conferência das Partes (COP-30) sobre Mudança do Clima das Nações Unidas.
“Da nossa parte, é sempre importante dizer o quanto nós estamos convidando a todos. É normal que o Brasil insista que todos venham. Esta é uma COP aberta para todos. Todos serão bem-vindos. Mas não há ainda indicação de presença da delegação americana”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP-30.
O número de líderes globais confirmados ainda é mantido em sigilo pelo governo brasileiro, que promove a COP-30 e uma cúpula política de alto nível dias antes.
Ideologicamente alinhados, os governos Donald Trump e Javier Milei são marcados por viés negacionista climático e, nas últimas reuniões globais, tiveram uma postura crítica sobre a existência e o enfoque de fóruns multilaterais, bloquearam acordos e objetaram a discussão de assuntos. Quando não barraram por completo comunicados conjuntos, optaram por se desassociar das declarações.
“EUA e Argentina, como países, são importantes para a agenda de clima. Mas, neste momento, seus atuais governos só atrapalham. Hoje o maior favor que os presidentes Milei e Trump podem fazer para a conferência de Belém é não vir. Porque, se vierem, será certamente para atrapalhar as negociações. São negacionistas climáticos e, em seus países, fazem de tudo para prejudicar a agenda. Na COP não seria diferente”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Ao longo de 2024, o governo Milei ordenou uma blitz conservadora na diplomacia argentina e passou a barrar temas da Agenda 2030 da ONU e não aceitar nem sequer discutir sustentabilidade, clima e gênero.
Isso ocorreu, por exemplo, no G-20 e no Mercosul. Na COP-29, após a vitória de Trump, Milei decidiu desengajar seu país do “multilateralismo climático”. A delegação da Argentina abandonou a sala da COP-29 em Baku, no Azerbaijão, seguindo instruções diretas da chancelaria em Buenos Aires.
Na semana de alto nível da ONU, em Nova York, Trump questionou na principal tribuna do mundo a emergência climática e disse que a “pegada de carbono é uma farsa inventada por pessoas com más intenções e elas estão trilhando um caminho de destruição total”. Ele afirmou que “ambientalistas radicalizados querem fechar fábricas nos EUA e acabar com as vacas”.
Em seguida, Allison M. Hooker, subsecretária para Assuntos Políticos dos EUA, afirmou que o G-20, que Trump vai assumir no ano que vem, vai parar de se ocupar de temas sociais e ambientais e voltar às origens com foco econômico. “O G-20 vai trabalhar para entregar resultados não somente declarações”, disse.
A ausência na pré-COP em Brasília, que serve para tentar destravar a agenda e avançar ao máximo com negociações de temas complexos, repete o que as delegações americana e argentina já fizeram em outras reuniões climáticas prévias, como a de Bonn, na Alemanha, em junho.
O real grau de engajamento e participação dos americanos ainda é uma incógnita para diversos negociadores e chefes de delegação. Por regra, a saída do Acordo de Paris somente se concretiza em janeiro de 2026 e, a rigor, os EUA seguem como parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Mas, até agora, eles têm se ausentado da mesa. O que, para diplomatas envolvidos nas longas discussões, pode não ser o pior cenário.
Apesar do abandono do Acordo de Paris pelos EUA, maior emissor histórico de gases estufa e também principal financiador, ser uma má notícia e ofuscar o futuro da COP-30, boicotar é considerado menos pior do que sabotar a conferência.
As negociações da COP-30, assim como as de outros fóruns como o G-20, precisam ser resolvidas por consenso – e as delegações têm de fato a prerrogativa de barrar acordos. Por isso, a ausência é uma postura negativa para a urgência, mas pode complicar menos do que uma presença “deletéria” – um temor por diplomatas de governos engajados – e também da presidência brasileira.
No caso da reunião pré-COP, que se desenrola nesta segunda e terça-feira, em Brasília, não há um processo de negociação formal em curso e, portanto, todos podem se pronunciar sem problemas. Mas, uma alta autoridade da COP admite reservadamente que esse perfil pode ser bloquear a agenda. O risco existe em Belém.
“O que a gente quer antes de mais nada é assegurar que a gente tenha uma COP na qual a gente possa avançar nas negociações, evitar bloqueios de um lado ou do outro que sejam provocados pelo desejo de colocar na agenda coisas que não estão na agenda. Então, a primeira coisa é assegurar a boa vontade de todos para que a COP possa começar já com negociações”, disse o embaixador.
Em entrevista antes da pré-COP, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, negou um “apagão da presença” americana e argentina. Questionada sobre o papel desses países, ela indicou que o caminho para driblar a falta de participação dos países – outrora engajados – era lidar com o setor privado e os governos regionais internos, a paradiplomacia, como o Estado da Califórnia (Gavin Newsom) e a Província de Buenos Aires (Axel Kicillof).
“Estamos trabalhando para que haja uma presença desses países na agenda de clima”, disse Marina Silva, citando entes subnacionais. “Ainda que tenha uma orientação central, ética e ciência não foram sepultadas nesses países.”
Delegações na pré-COP em Brasília
- África do Sul: Bernice Swarts — Vice-Ministra do Departamento de Florestas, Pescas e Meio Ambiente
- Alemanha: Jochen Flasbarth — Secretário de Estado do Ministério do Meio Ambiente
- Angola: Ana Paula Chantre Luna de Carvalho Pereira — Ministra do Ambiente
- Arábia Saudita: Abdelrahman Al Gwaiz — Assessor Chefe de sustentabilidade
- Austrália: Kate Lynne Thwaites – Enviada Especial para as Mudanças e Resiliência Climática
- Barbados: Shantal Munro-Knight — Ministra no Gabinete da Primeira-Ministra
- Bélgica: Chris Hoornaert — Embaixador da Bélgica no Brasil.
- Brasil: Marina Silva — Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima
- Burkina Faso: Edgard Sié Sou — Embaixador de Burkina Faso no Brasi.
- Canadá: Jeanne-Marie Huddleston — Negociadora de clima do Canadá
- Chile: Julio Cordano — Embaixador e Diretor da Divisão de Meio Ambiente
- China: Li Gao — Vice-Ministro do Ministério da Ecologia e do Meio Ambiente
- Colômbia: Lilia Tatiana Roa Avendaño — Vice-Ministra de Ordenamento Ambiental do Território
- Coreia do Sul: Keeyong (Chung) — Embaixador e Vice-Ministro para Mudança do Clima (MOFA)
- Croácia: Milena Mudrinić — Representante da Embaixada da Croácia.
- Cuba: Pedro Luis Pedroso Cuesta — Diretor-Geral Adjunto para Assuntos Multilaterais e Direito Internacional
- Dinamarca: Ole Thonke – Vice-secretário para políticas desenvolvimentistas e embaixador climático
- Egito: Wael Aboulmagd — Embaixador do Egito no Brasil.
- Emirados Árabes Unidos: Mohammed Saeed Al Nuaimi — Subsecretário do Ministério da Mudança do Clima e Meio Ambiente
- Eslovênia: Tanja Maslac — Representante da Embaixada da Eslovênia.
- Espanha: Elena Pita Domínguez — Diretora-Geral do Escritório Espanhol de Mudança Climática
- Etiópia: Leulseged Tadese Abebe — Embaixador da Etiópia no Brasil.
- Filipinas: Joseph Gerard Bacani Angeles — Embaixador das Filipinas no Brasil
- França: Benoît Faraco — Embaixador encarregado das negociações climáticas
- Honduras: Federica Bietta — Assessora
- Ilhas Marshall: Bremity Lakjohn — Ministro Assistente do Presidente e do Meio Ambiente
- Índia: Bhupender Yadav — Ministro de Meio Ambiente, Florestas e Mudança do Clima
- Indonésia: Ary Sudijanto — Vice-Ministro para Governança de Mudança do Clima e Valor Econômico do Carbono
- Iraque: Halo Mustafa Al-Askari — Ministro do Meio Ambiente.
- Irlanda: Maurice Nolan — Chefe-Adjunto de Missão, Embaixada da Irlanda em Brasília
- Itália: Vannia Gava — Vice-Ministra do Meio Ambiente e Segurança Energética
- Japão: Misako Aiba Takahashi — Negociadora do Japão
- Quênia: Andrew Karanja — Embaixador do Quênia no Brasil
- Líbia: Osama Ibrahim Ayad Sawan — Embaixador da Líbia no Brasil
- Malásia: Mohammad Ali bin Selamat — Embaixador da Malásia no Brasil
- Maláui: Vitus Dzoole Mwale — Embaixador adjunto do Maláui no Brasil
- Maldivas: Amjad Abdulla — Diretor-Geral do Departamento de Mudança do Clima; Negociador-chefe para Mudança do Clima
- Marrocos: Rachid Tahiri — Chefe da Divisão de Mudança do Clima e Economia Verde
- México: Camila Zepeda Lizama — Chefe da unidade de coordenação internacional
- Nepal: Nirmal Raj Kafle — Embaixador do Nepal no Brasil
- Noruega: Astrid Willa Eide Hoem — Secretária de Estado, Ministério do Clima e Meio Ambiente
- Nova Zelândia: Todd Michael Croad — Negociador-chefe
- Países Baixos: Jaime de Bourbon de Parme — Enviado para Assuntos de Clima
- Paquistão: Aisha Humera Moriani — Secretária do Ministério de Mudança do Clima e Coordenação Ambiental
- Palau: Steven Victor — Ministro da Agricultura, Pescas e Meio Ambiente.
- Panamá: Juan Carlos Monterrey Gómez — Representante Especial para Mudança do Clima.
- Papua-Nova Guiné: Kevin Conrad — Enviado Especial para a COP30 e Financiamento Climático.
- Paraguai: Luis Carlos García — Representante da Embaixada do Paraguai.
- Peru: Jimena Paola Mora Cárcamo — Diretora interina da Direção de Mitigação de GEE
- Polônia: Krzysztof Bolesta — Secretário de Estado (Ministério do Clima e Meio Ambiente)
- Portugal: Maria Graça Carvalho — Ministra do Ambiente e Energia
- Reino Unido: Rachel Kyte — Representante Especial do Reino Unido para o Clima
- República Democrática do Congo: Marie Nyange Ndambo — Ministra do Meio Ambiente
- República do Congo (Congo-Brazzaville): Louis Sylvain Goma — Embaixador do Congo no Brasil
- Rússia: Ruslan Edelgeriev — Assessor do Presidente; Enviado Especial para Mudança do Clima
- Cingapura: Grace Fu — Ministra da Sustentabilidade e do Meio Ambiente
- Suíça: Felix Wertli — Embaixador para o Meio Ambiente; Chefe da Divisão de Assuntos Internacionais
- Suriname: Patrick Loys Brunings — (atualizado) para Ministro do Petróleo, Gás e Meio Ambiente
- Tailândia: Kundhinee Aksornwong — Embaixadora da Tailândia no Brasil
- Tuvalu: Ian William Fry — Embaixador para Mudança do Clima e Meio Ambiente
- Turquia: Fatma Varank — Vice-Ministra do Meio Ambiente, Urbanização e Mudança do Clima
- Uganda: Beatrice Atim Anywar — Ministra de Estado para o Meio Ambiente
- União Europeia: Wopke Hoekstra — Comissário Europeu para Clima, Emissões Líquidas Zero e Crescimento Limpo
- Uruguai: Óscar Florencio Caputi — Subsecretário do Ministério do Ambiente
- Vanuatu: John Salong — Ministro responsável por Clima/Meio Ambiente
- Venezuela: Ricardo Antonio Molina Peñaloza — Ministro do Poder Popular para o Ecossocialismo
- Zimbábue: Rutendo Faith Sagwete — Encarregada de Negócios interino
Organizações / COP
- Presidência da COP-29: Mukhtar Babayev — Representante do Presidente da República do Azerbaijão para Assuntos Climáticos; Presidente da COP-29
- Presidência da COP-30: André Aranha Corrêa do Lago – Embaixador; Presidente da COP-30
- Presidência da COP-30: Ana Toni – CEO da COP-30
- Presidência da COP-30: Alice de Moraes Amorim Vogas – Chefe da Assessoria Extraordinária para a COP-30
- UNFCCC: Simon Stiell — Secretário-Executivo.
- Banco Mundial: Paola Ridolfi – Assessora de Mudança Climática
Estadão Conteúdo