Miguel Lucena
Quando Bob Marley morreu, aos 36 anos, em 11 de maio de 1981, Bujão estava tomando cerveja com amigos na Vila Rosenval, bairro da Liberdade, em Salvador da Bahia. Ficaram chorando, abraçados, enquanto as pessoas passavam pra lá e pra cá, arrumando os últimos temperos e misturas para o almoço.
E olha que 11 de maio de 1981 caiu em uma segunda-feira. A cachaça de Bujão e amigos durou até o final da tarde. De lá, ele seguiu para Itapuã, onde se encontrou com Celso Cotrim, que estava de folga do plantão médico, e rumaram para a Lagoa do Abaeté.
O assunto do dia era a morte de Bob Marley.
-Vocês não sabem: foi o maior chororô na Vila Rosenval. Só via nego chorando. Até Benedito Reiúna, que é durão, chorou! – contou Bujão.
Sentado em um batente da bodega de Amaro, Nego Tenga anotou a conversa e escreveu uns versos, começou a assoviar, e em menos de uma hora saiu a canção Brilho de Beleza, o maior sucesso do bloco afro do bairro, o Muzenza do Reggae. Gal Costa fez uma gravação muito bonita em seguida:
“O negro segura a cabeça com a mão e chora,
E chora, sentindo a falta do rei!
Quando ele explodiu pelo mundo,
Ele mostrou seu brilho de beleza:
Bob Marley pra sempre estará
No coração da raça negra.
Quando Bob Marley morreu,
Foi aquele chororô na Vila Rosenval
(Muzenza trazendo Jamaica,
Arrebentando neste Carnaval)”.