Miguel Lucena
Quando Orlando do Bandolim terminava o verso “é de dar água na boca quando olho pra você”, Anchieta entrava com voz de falsete, imitando Amelinha: “E o meu coração, coitado, fica logo acelerado, fica doido de prazer”!!!. Antes dele começar o “tem dó de mim, não faz assim que doi demais”, Jane aparecia com um cabo de vassoura na mão e botava Anchieta para correr.
A única diversão de Anchieta era jogar futebol e se reunir aos domingos com a turma do Conjunto Ernesto Geisel, em João Pessoa, Paraíba. Depois da pelada, um ou dois dos amigos mais remediados pagavam a bebida e os tiragostos de quitute de boi Wilson para a turma.
Jane queria que o marido, depois de trabalhar durante a semana, ficasse em casa aos sábados e domingos, comendo galinha com cuscuz e fazendo cafuné.
Morena bonita, Jane era a grande paixão de Anchieta, tanto que ele se submetia às cacetadas e chineladas dela. Ele gostava demais, também, daquele momento com os amigos, quando podia expressar seu lado artístico. Jane, contudo, receava que seu marido ganhasse fama de afeminado ao cantar com a voz de Amelinha.
Foi tanta desfeita que Anchieta, um dia, desapareceu da vida de Jane. Dizem que foi morar na Serra do Teixeira com uma galega da família do famoso cantador Inácio da Catingueira.