IPCA-15 sobe 0,44% em maio, a maior alta para o mês desde 2016. Considerado uma prévia da inflação, índice acumula elevação de 7,27% em 12 meses. Em Brasília, houve queda
A carestia não dá trégua, apesar da pandemia da covid-19, que tem ajudado a travar a atividade econômica. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), conhecido como prévia da inflação, subiu 0,44% em maio. O indicador desacelerou em relação ao 0,60% de abril, mas teve a maior variação para maio desde 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No acumulado desde janeiro, o índice subiu 3,27%, e, em 12 meses, saltou 7,27%, acelerando em relação aos 6,17% contabilizados no mesmo intervalo até abril. A alta dos preços foi generalizada, atingindo oito dos nove grupos pesquisados, com exceção para o de transportes, que teve queda.
Os principais itens que puxaram a inflação de maio foram medicamentos e conta de luz, mas a valorização das commodities e do dólar continuam pressionando produtos como carnes, óleo de soja e combustíveis — itens que acumulam altas, em 12 meses, de 38,68%, de 53,93% e de 41,11%, respectivamente.
Conseguir sobreviver com a forte alta dos preços, especialmente de despesas básicas, é um dos desafios para a manicure autônoma Fabiane Lopes, 41 anos, residente em Valparaíso de Goiás (GO). Desde o ano passado, o auxílio emergencial ajuda no pagamento das contas de água e de luz, porque a renda dela e do marido caíram por conta da pandemia.
Com a diminuição do valor do auxílio, porém, está mais difícil equilibrar o orçamento. “Nem tudo que comprávamos no ano passado podemos levar para casa hoje. A carne é um exemplo. E tem o gás de cozinha que está cada vez mais caro”, disse.
Deflação em Brasília
O resultado do IPCA-15, em maio, ficou abaixo da previsão de 0,55% do mercado, mas manteve aceso o alerta dos especialistas. Eles veem uma inflação mais persistente no ano, que continuará com o dólar valorizado e acima de R$ 5.
Segundo os analistas, a grande surpresa de maio foi a queda de quase 29% das passagens aéreas. Em Brasília — única capital entre as 11 pesquisadas a registrar deflação no IPCA-15, de 0,18% —, o tombo nos preços das passagens foi maior: 37,10%.
Os analistas não descartam as chances de estouro do teto da meta de inflação, de 5,25%, apesar de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, garantir que será possível encerrar o ano com a inflação dentro do objetivo. “A meta será cumprida e, por isso, fizemos mais do que o mercado entendia”, afirmou Campos Neto, ontem, em evento do BTG Pactual.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), prevê o IPCA encerrando o ano em 5,80%. Ele acredita que a Selic continuará subindo ao longo do ano para ajudar na queda do dólar e, assim, trazer um pouco a inflação para baixo.
“O BC não vai conseguir interromper o ciclo de alta da Selic, como promete, porque não há espaço para um ajuste fiscal para ajudar. O governo deveria buscar outras formas de conter a inflação, como acelerar a reforma tributária, ajudando a reduzir impostos para as empresas e melhorar a produtividade”, frisou. (Colaborou Alexia Oliveira, estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo)