domingo, 07/12/25

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Alguns sapos que se acham príncipes

Ilustração gerada por IA

 

Miguel Lucena

Há quem leia meia dúzia de frases de O Príncipe e saia por aí achando que virou Maquiavel reencarnado. Confundem astúcia com esperteza de boteco, prudência com covardia e aparência de virtude com hipocrisia barata. São sapos empoleirados em cargos miúdos, imaginando-se estrategistas de renome mundial, quando na verdade não passam de amadores tentando imitar lições que não compreenderam.

Maquiavel ensinou que a arte de governar exige cálculo, sangue frio e a capacidade de distinguir o momento de rugir como leão e o de agir como raposa. Nossos sapos contemporâneos apenas coaxam. Tentam dissimular, mas tropeçam na própria língua; tentam parecer virtuosos, mas deixam escapar o rastro de vaidade e ressentimento. Pensam estar manipulando cenários quando, na verdade, são manipulados por quem já entendeu suas fraquezas.

A tragédia – ou a comédia – é que acreditam dominar a “moral política”. Mal sabem que Maquiavel nunca defendeu a trapalhada. Falava em eficácia, não em intrigas de quinta categoria. A dissimulação, para ele, era instrumento; para os sapos, vira cilada. Eles tentam blefar, mas mostram o jogo; querem parecer fortes, mas se revelam inseguros; buscam o poder, mas acabam presos ao próprio pântano.

No final, o que resta é o espetáculo: sapos que se imaginam príncipes, mas que, ao tentar aplicar Maquiavel sem entender Maquiavel, terminam como sempre terminam os falsos estrategistas — atolados, expostos e ridículos. Porque a política não perdoa quem confunde grandeza com pose, nem astúcia com improviso. E muito menos transforma sapo em príncipe por decreto.

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