Maria José Rocha Lima
O historiador baiano Marcelo Gentil publicou algumas das fantásticas memórias do Olodum, celebrando o Agosto Amarelo. O vice – presidente do Olodum lembrou que faz 31 anos que Mandela foi à Bahia. Depois de cumprir a agenda oficial, foi aclamado, sob forte emoção, por 150 mil baianos que se reuniram na Praça do Poeta Castro Alves. Mandela encerrou o ato com um gesto muito afetuoso: “Quase fomos mortos de tanto amor!”.
Foi no dia 5 de agosto de 1991 que Nelson Mandela visitou a Bahia, inicialmente a partir de articulação de parlamentares e oficializado por um convite da Assembleia Legislativa da Bahia, que aprovou a Medalha Libertadores da Humanidade, com a efígie do Líder Mundial da Luta Anti– racismo, iniciativa do meu mandato, como deputada estadual.
Dois anos depois, Mandela se elegeu presidente da África do Sul, realizando a transição que encerrou a política do apartheid em seu país, e ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
Marcelo Gentil assinala que as relações do Olodum com as lutas contra o Apartheid na África do Sul tiveram início na década de 1980, quando o Olodum deixa de ser apenas um bloco afro, passando a ser um grupo cultural que luta contra o racismo e por políticas de direitos humanos.
Quando Mandela foi libertado, ocorria o Festival de Música do Olodum (Femadum) e foi entoado o Hino da África, fazendo todo o Largo do Pelourinho dançar e vibrar com o hino em ritmo de samba reggae.
A partir daquele momento épico, o Hino da África passou a ser a trilha sonora do encerramento dos ensaios do Olodum, todos os domingos.
Em 1989, o Hino da África foi gravado no LP intitulado Do Deserto do Saara ao Nordeste Brasileiro, cuja faixa é iniciada com a declamação do Poema da Liberdade, de autoria de João Jorge Rodrigues, dirigente do Olodum.
Marcelo Gentil, do Olodum, lembrou que as relações do Olodum com a África do Sul eram antigas. “Em 1989, junto com a Associação dos Professores Licenciados da Bahia – APLB e da UNEGRO, inserimos uma Emenda Popular que coletou 1 milhão de assinaturas, tendo sido a maior coleta em todas as épocas e mereceu figurar na capa do documento iconográfico sobre a Constituinte baiana. Com esta emenda, inserimos na Constituição do Estado da Bahia o Capítulo XXXIII sobre o Negro, que, dentre outros preceitos, no seu Art. 287, proibia a Administração Pública de manter relações políticas e comerciais com países que praticassem oficialmente a discriminação racial”.
Em 1989, um grupo de parlamentares, constituído por Paulo Paim, Edmilson Valentin, Benedita da Silva, Carlos Alberto Caó, João Herman e Domingos Leonelli, visitou a África do Sul, em nome Câmara dos Deputados, para engrossar o coro das pressões diplomáticas e políticas internacionais a pleitear a libertação de Nelson Mandela.
A visita de Nelson Mandela à Bahia foi um dos momentos mais emocionantes vividos pelos baianos, que não só o guardam no coração, mas gravaram na mente a frase proferida pelo líder antirracista: “O racismo não pode passar por uma plástica para ser mais aceitável. Racismo é racismo, qualquer que seja o nome ou a máscara que vestir”.
Coube ao Olodum encerrar o ato com o Hino da África. Nelson Mandela, de mãos dada com Winnie [1]Mandela, devolveu o carinho e todo o afeto do povo baiano, agradecendo: “Quase fomos mortos de tanto amor!”.
Parabéns a João Jorge Rodrigues e a Marcelo Gentil, pelas histórias e memórias e pelo Agosto Amarelo! Viva o Olodum!
Maria José Rocha Lima Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise-ABEPP. Membro da Organização Internacional Clube Soroptimista Internacional Brasília Sudoeste. Foi Conselheira do Olodum.