Maria José Rocha Lima[1]
A Unesp apontava 22 ataques a escolas brasileiras de 2002 a 2022, e em 2023 os registros dispararam.
O psiquiatra e educador brasileiro Içami Tiba (2006), que dedicou a sua vida a estudar a educação do jovem para uma sociedade viva e equilibrada, propõe a pais e educadores que a base segura para a Educação saudável ainda está na disciplina. Não a da educação autoritária, mas a disciplina da sociabilidade, fundamental para a organização de toda e qualquer pessoa, família, grupo e sociedade. Para ele, “educar dá muito trabalho. E essa permissão, às vezes, está implícita no olhar ou até mesmo no tom de voz, apesar de a frase ser proibitiva: “não pode”.
A quem interessa crianças e jovens indisciplinados, desrespeitosos, mimados e inconsequentes? Crianças e jovens que não respeitam e ofendem pai e mãe, não valorizam a família, menos ainda a escola; desrespeitam e ofendem gravemente aos seus professores e colegas?
Em 2016, no Roda Viva Internacional, da TV cultura, com o psiquiatra inglês Theodore Dalrymple, fiquei fortemente impactada pelos seus estudos. E Miguel Lucena, que leu quase toda a sua obra, além de ter uma relevante experiência como delegado, lidando com a criminalidade, de pronto entendeu que o “sentimentalismo tóxico, resultado da culpa pela desigualdade social, tem alastrado o mal no Brasil”.
Assistimos a um desencanto com a ciência, com a religião, descrença em Deus e secularização da sociedade, enfim, tudo concorrendo para uma desestabilização das instituições da sociedade e produção do caos, o que tem servido para dividir todos e o crime reinar.
Na obra intitulada Desembestados – Descontrole da Criminalidade, Miguel Lucena nos adverte para a perigosa “ negação da autoridade […] para a substituição da virtude pela busca do prazer a qualquer custo, que criaram um contingente enorme de pessoas sem freios morais, capazes de praticar toda a sorte de indignidades para alcançar seus objetivos, o que tem provocado a descontrole da criminalidade no Brasil.” Miguel Lucena denominou desembestado a esse contingente “que se acha poderoso e superior aos demais, sobretudo se estiver com uma arma na mão”.
A grande questão fundamental para o psiquiatra Içami Tiba(2006) é a Disciplina, o Limite na medida certa, sobre as novas gerações, tão contaminadas pelas tecnologias, de um mundo caótico. Diz o autor: “É preciso que pais e professores ajudem no desenvolvimento desse jovem para que ele vá buscar sua autonomia, competência e realização”. Aí, sim, teremos todos nós cumprido a nossa missão. Criar é fácil, difícil é educar. Assim, não basta permitir, mas conferir à permissão um caráter educativo. Muitas permissões nascem da impaciência, do cansaço, da preguiça, do comodismo e da perda de referência dos pais para educar. Educar dá muito trabalho”.
Içami alerta para proibição com tonalidade de permissão: “A criança vai fazer algo, e a mãe fala não. Ela percebe o tom vacilante da mãe, aproveita a brecha e faz assim mesmo. Nada lhe acontece. O pode/não pode é um critério estabelecido pelos pais que terá consequências na compreensão da liberdade pessoal”.
O psiquiatra afirma que “é preciso ter o pulso forte que transmita responsabilidade e respeito, o que não é uma tarefa fácil. E esses são justamente alguns dos ingredientes básicos para a correta educação dos ‘adultos de amanhã’ Eduque o seu filho em prol de um futuro melhor”.
E o futuro é o que começamos a fazer dele no presente”. Nosso filho Lucas Vicente desde os 9 anos dizia: “ Não faça nada que prejudique o seu futuro”.
Içami pede menos culpa e mais responsabilidade. “O principal ‘veneno’ da educação dos filhos é a culpa. Culpa de trabalhar fora. Culpa de estar com os filhos, quando acha que devia estar trabalhando”, segundo autor.
O maior erro na educação do filho é colocá-lo no topo da casa, no trono, como um reizinho. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo. O filho é apenas um dos elementos da família. Toda organização da sociedade tem que ter um superior hierárquico, alguém respeitado que ponha ordem.
Para Theodore Dalrymple, “o sentimentalismo é o progenitor, o avô e a parteira da brutalidade”.
[1] A professora Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA-, doutora em psicanálise e doutoranda em educação.Foi deputada de 1991 a 1999. É Soroptimist International SI Brasília Sudoeste. Sócia Benemérita da Hora da Criança.
É a velha premissa entre disciplina, limite, respeito e responsabilidade, mas antes deles vem o PODER. E quando este é delegado a quem nâo tem desenvolvido e estruturado nenhum destes princípios, o caos está formado. Atrelado a tudo isso e tantas outras coisas vem a Educação, mas como fazer desta o pilar para todas as outras coisas? A resposta é quase impossível porque num país cujos príncípios estão forjados para dar privilégios a uns e abismos a outros é muito improvável que tenhamos uma pátria justa, igualitária e livre.
É muito complexo enxergar o.que não se pode ver e os valores, todos eles e em todas as esferas desta sociedade, estão invertidos e preteridos para priorizar desejos e ganâncias.