MINHA MÃE E EU – Eu e a minha amada mãe Dona Terezinha, num flagrante de realização do seu sonho de me ver escritora. A educação entrou em minha vida pelas mãos da minha mãe. Dona Terezinha é uma mulher incrivelmente inteligente: ficou orfã de pai e mãe, no mesmo ano, aos 11 anos, mas soube construir estratégias de sobrevivência altamente sofisticadas.Ela se aliou e promoveu encontros felizes com professores e parentes, que me ensinaram pela vivência o valor da educação. No curso primário, ela me colocou frente a frente com a professora Alice Magalhães, pura sorte. Eu precisava ingressar no curso primário, e ela não queria qualquer escola, quando, num dia raro, entrou numa escola particular cuja fachada admirava e o nome Nossa Senhora das Graças, pediu para falar com a diretora, Dona Alice, e, ao se avistar com ela, perguntou-lhe se tinha bolsa de estudos para alunos pobres, argumentando que a sua filha (eu) era muito inteligente, por isso queria uma boa escola. Dona Alice explicou-lhe que não tinha bolsa, mas ponderou: – ClVamos ver como está Maria? Na mesma hora, me fez uma série de perguntas de português, de tabuada e de geografia. E, ao final, confirmou que eu era uma menina muito inteligente, que ela ia pensar como me dar uma bolsa de estudos, em regime de internato. Minha mãe voltou no dia seguinte e eu fui matriculada na Escola Nossa Senhora das Graças, na Orla da Ribeira, em Salvador, na qual estudavam ,exclusivamente, filhos de fazendeiros da região de Itabuna. A escola ficava à beira mar, era bonita e organizada e havia uma rotina intensa de estudos, inclusive aula de música, piano e disciplina espartana. E nos fins de semanas e férias ela nos levava para casa de um primo, muito bem de vida, Hermógenes Xisto Lima, que adorava crianças: tinha sete filhas educadíssimas, três delas professoras, que nos ensinavam muitas coisas e principalmente boas maneiras. A casa era bonita, tinha biblioteca, lindas cristaleiras e era frequentada por políticos baianos, como João Martins, Wilson Lins, e ministros, como Carlos Coqueijo Costa. Minha mãe me queria uma estudiosa, escritora.Orgulhava-se da minha luta em defesa da educação. Só protestou quando fui deputada. Ela me disse que eu iria perder a credibilidade. Dona Terezinha já percebia o quanto é irrisória nossa vã democracia!