sexta-feira, 31/01/25
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Zé de Nana voltou gordo dos EUA

Ilustração/IA

 

Miguel Lucena

Taperoá nunca viu um reboliço tão grande desde a última vez que o açude encheu. Zé de Nana, figura conhecida por seus causos e sua habilidade de desaparecer por anos sem dar notícia, reapareceu na cidade, mas agora trazendo uma surpresa que deixou todo mundo com a pulga atrás da orelha: ele voltou gordo. E não era só gordo; era gordo de um jeito que só quem comeu muito e bem — ou muito mal — pode ficar.

Foi só ele botar os pés na praça principal que as especulações começaram: “Enricou na América!”, dizia Dona Luzia, que já fazia planos de pedir um empréstimo ao suposto milionário. “Deve ter aberto um restaurante brasileiro por lá, esses gringos adoram coxinha”, afirmava Seu Bartolomeu, que nunca saiu de Taperoá, mas se considera um especialista em cultura americana por causa dos filmes dublados na TV.

Zé de Nana, ao perceber o alvoroço, não demorou a desfazer os mitos que já estavam surgindo sobre sua fortuna. Reuniu o povo na calçada da mercearia de Zé Vilar e soltou a verdade, sem rodeios:

— Gente, não foi riqueza, não. Foi gordura e sódio!

A revelação caiu como uma bomba. O pessoal ficou mais curioso ainda, e Zé, aproveitando o momento, começou a detalhar sua vida na “América”.

— Lá, minha gente, é tudo corrido. Quem mora no subúrbio, naquelas casas com gramado e cerquinha branca, até tem tempo de fazer um ovo com bacon de manhã. Mas o resto do dia é na rua, em pé e na pressa. Hot dog? É só um pão de leite com uma salsicha seca e uma tirinha de mostarda em cima. Nem ketchup dá tempo de botar.

Dona Luzia, chocada, cruzou os braços.

— Mas e os restaurantes chiques?

— Ah, isso é só pros ricos — respondeu Zé. — Restaurante chinês, italiano? Só se for pra quem tem mais dinheiro do que problemas. A gente, que é pobre, fica no básico: hambúrguer, pizza e aqueles nuggets que parecem de borracha.

O povo começou a entender. Não era riqueza; era excesso de fast food.

Zé aproveitou para fazer uma crítica que deixou todo mundo pensativo:

— Os americanos, minha gente, estão todos inchados. E a gente, que vai pra lá tentar a vida, acaba ficando no meio. Inchado de comida ruim e de saudade de um cuscuz com carne de sol.

A risada correu solta na roda, mas ficou a lição. No fim das contas, Zé de Nana não enricou, mas voltou com histórias pra dar e vender. E talvez, com um pouco de sorte, ele ainda consiga uns trocados vendendo o “causo da salsicha seca” pra um programa de rádio da capital.

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