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Maria José Rocha Lima[1]
Wilson Oliveira Aragão (25 de abril de 1950) é um cantor e compositor brasileiro. Completou, no último dia 25, 73 anos de idade. Com quase 40 anos de carreira, cinco discos lançados e músicas gravadas por grandes artistas nacionais e internacionais, é autor de pérolas do cancioneiro nacional como “Capim-Guiné”, “Mosaicos”, “Guerra de Facão” e “Sertões e Sertões”. A sua história é celebração às raízes do Nordeste e, também, lembrete para a importância da música nordestina no cenário nacional.
Nascido na cidade de Piritiba/BA, no Piemonte da Chapada Diamantina, começou cantando na adolescência em corais de igreja e de colégio. Já nesse tempo, se achava diferente por gostar de músicas, estilos e ambientes proibidos por sua família, que era evangélica, e por já sentir a veia artística se manifestando por meio de poesias, pinturas e músicas. Com a separação dos pais, foi para São Paulo, trabalhar e fazer faculdade, mas continuou compondo e escondendo as músicas. A arte ficou escondida nos seus cadernos até criar coragem de mostrar aos amigos mais próximos, que o encorajaram a mostrar as composições aos artistas da época. Com a gravação de Raul Seixas, Capim Guiné foi sucesso em todo o Brasil.
Além de Capim Guiné, gravada também por Tânia Alves, ele é autor de “Guerra de Facão”, gravada por Zé Ramalho, Falcão, Antonio Rocha e outros artistas brasileiros.
A sua música fala, principalmente, do homem do campo, suas lutas e anseios, seus amores e dissabores. Seus ritmos passeiam por baladas, xotes, martelos, galopes e canções. Tem como Pátria o sertão baiano, inspiração do seu cancioneiro, sempre voltado para a dignidade, humildade e sapiência do sertanejo, como na música O Sertão chora, com letra do poeta e jornalista Miguel Lucena. Aragão já faz parte do grande São João e cantorias pelo sertão brasileiro, tornando-se parte da vida poética do Nordeste.
Este poeta-cantador faz as suas andanças, sempre irreverente, levando consigo vários “causos” que, sempre bem contados, despertam no povo o sentido alegre da vida após um dia de batalha e é respeitado por todos os cantadores pela grande luta por uma música de qualidade. Wilson Aragão é casado com Mirian e tem três filhos: Pedro, Wilson Filho e Rui.
Wilson começou sua carreira em 1982, tem cinco CDs gravados e participação em várias coletâneas.
O violeiro talentoso e amoroso não perde a esperança no povo brasileiro e no Brasil. O poeta elege, como motivo da sua poética, tudo o que a sociedade do consumo, secularizada, marcada pelo vazio existencial, considera inútil e descartável. O poeta dos sertões é um Peregrino do Sertão da Bahia, buscando nesses lugares aqueles que são os verdadeiros ilustres e os torna ilustres. As suas andanças se dão, privilegiadamente, entre os protagonistas das suas obras: os sertanejos pobres, coisa que responde à ideia de busca de elevação humana.
A obra de Wilson Aragão me lembra uma alegoria contada como se fosse um sonho, voltando-se sempre para dar voz, nas suas narrativas poéticas, aos que ficaram à margem.
[1] Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International. Sócia Benemérita da Hora da Criança.
Esse cara em seus belos versos e nas suas lindas melodias canta tudo que gosto de ouvir, ele canta minha vida nas Chapadas e nos Sertões Sertões desse mundão de meu Deus ! Sou seu fã Aragão!!!
Maravilha.
Conheci Aragão no prédio de apartamentos em Brotas, Salvador, de um dos ‘filhos’.
Fui encontrar o amigo, poeta Miguezin de Princesa, citado na matéria como letrista de “O Sertão Chora” em parceria com Wilson Aragão. Nesse dia, conheci a artista plástica Miriam Aragão.
No final de semana seguinte, fomos a um assentamento ao lado de Santo Amaro, próximo à antiga usina de papel que por falta de gestão adequada, fiscalização rígida, fez com que boa parte da cidade e dos distritos próximos tivessem suas populações com doenças graves. O chorume do bambu moído largado na terra nua exalava um mau cheiro tão forte que a 5 km de distância, praticamente no início da noite tínhamos que usar o lenço tampando o nariz e a boca.
Há duas lembranças que considero interessantes: a primeira, Wilson Aragão me mostrando o terreno, feliz pela conquista, apontando pés de frutas, legumes, verduras, árvores frondosas em crescimento sem ser as da Mata Atlântica, conversando que às 4h da manhã percorria aquele caminho… interrompeu e me parou com o chapéu de coro dele batendo no peito. “Pare aí”!… continuou: “esses reflexos fortes e pequenos vêm da pele das jararacas, maiores moradores do local”. E riu. Tinha uma jararaca se preparando para dar o o bote.
Pernas pra que te quero!
A segunda tem a ver com Adélia Sambadeira. Uma senhora que tinha um barzinho do lado de fora do assentamento à beira da estrada BA 878 em direção a Bom Jesus dos Pobres. Miguezin e eu começamos a bebericar uma cervejinha por volta de 18h na ‘tenda” de dona Adélia. E percebemos que ela não sabia fazer conta. Servia e na hora de cobrar, botava preço por cada unidade consumida e aguardava o freguês responder com a soma e o valor. Enquanto bebíamos fizemos as contas para os clientes mais espertos e Miguezin conseguiu arrancar boas risadas de Adélia Sambadeira, que alegre começou a sambar, e o poeta construiu naquele momento música que entoava a dança, que segundo ela cansou de virar até duas noites dançando naquele ritmo. Wilson Aragão chegou, bebeu cerveja com a gente, e nos avisou do horário para voltarmos a Salvador. Despedidas feitas, Aragão nos informou que Adélia Sambadeira não sorria e nem conversava há mais de três anos, quando o marido, chefe do assentamento, foi assassinado pelo filho do atual administrador.
“Um caneca de barro com pinga
da cor da erva cidreira
nos traz um samba
entoado para Adélia Sambadeira”
…