DHAKA – Trabalhadores humanitários em Bangladesh correm para conter a propagação do novo coronavírus no maior campo de refugiados do mundo, instalando centros de isolamento e tratamento e pias para a lavagem de mãos, após a confirmação dos primeiros casos.
A agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) disse que as 850 mil pessoas da etnia rohingya que ocupam os campos densamente povoados de Bangladesh estão entre as mais vulneráveis ao novo vírus altamente contagioso, que se espalhou rapidamente pelo mundo.
Os trabalhadores humanitários alertaram para um potencial desastre humanitário se houver um surto nos campos de Bangladesh, que registrou cerca de 300 mortes pelo vírus.
— As equipes foram ativadas para iniciar o isolamento e tratamento de pacientes, bem como rastrear contatos — disse Andrej Mahecic, porta-voz do Acnur, depois que três refugiados rohingyas deram positivo. — Essas populações são consideradas as que estão mais em risco globalmente nesta pandemia.
Cerca de 4 mil refugiados foram solicitados a não deixar seu bloco para diminuir a propagação do vírus, disse Mahbub Alam Talukder, comissário de refugiados de Bangladesh.
— Conseguimos atrasar a entrada do vírus nos campos por um longo tempo, e isso porque trabalhamos para impedir a propagação desde março. Estamos preparados para isso — afirmou.
Cerca de 250 camas de isolamento estavam sendo montadas nos campos lotados, disseram as Nações Unidas. As agências de ajuda humanitária também estão instalando estações de lavagem sem contato para reduzir a propagação do vírus.
— Com 40 mil pessoas amontoadas por quilômetro quadrado, é impossível manter a distância social — disse Dipankar Datta, diretor de Bangladesh da organização Oxfam, acrescentando que os banheiros compartilhados tornaram as coisas ainda mais desafiadoras.
As previsões de um ciclone nos próximos dias podem trazer “mais sofrimento” aos refugiados, alertou.
Rezwan Khan, um refugiado de Rohingya de 22 anos, disse que as pessoas nos campos estavam assustadas.
— Vi menos pessoas saindo — disse ele.
Mais de 730 mil Rohingya chegaram de Mianmar no final de 2017 depois de fugir de uma repressão militar. Mianmar está enfrentando acusações de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça em Haia por causa da violência.
O exército nega o genocídio, dizendo que travou uma batalha legítima contra os militantes rohingya que teriam atacado primeiro.