Miguel Lucena*
Fiquei emocionado ao conversar por telefone esta semana, após uma ausência de 46 anos, com quatro pessoas que me trazem recordações muito boas da infância em Princesa, sertão da Paraíba.
Nevinha, Neildo, Gil e Sandro, filhos de dona Alda e Seu Batista, eram como irmãos para mim. Ainda não falei com Val, um dos irmãos Vieira, mas pretendo fazê-lo o mais rapidamente possível.
Morávamos na mesma rua, onde jogávamos bola descalços e desenhávamos sonhos em nossos terreiros de barro batido.
Era uma família muito organizada, trabalhadora, contida, discreta e honrada. Comi muita batata doce, plantada por Seu Batista, tomei o café passado por Dona Alda e assisti muitos jogos pela única televisão existente na rua, a da residência deles. Numa noite de domingo, após uma reportagem sobre o cometa Halley transmitida pela TV Tupi, saí correndo assustado de lá para a minha casa, pensando que o mundo ia se acabar.
Escapei de morrer durante uma pelada de futebol em frente à casa dos Vieira: Neildo deu uma rosca na bola, e eu, de goleiro, voei para evitar o gol, quando apareceu o jipe dirigido pelo pároco local, Frei Anastácio Palmeira. O pneu do carro parou encostado na minha cabeça, o religioso desceu trêmulo e pálido, gritando comigo, e eu dizendo que era Leão, o goleiro da Seleção.
O tempo passou, mas eu nunca deixei de perguntar pelos meninos de Dona Alda e Seu Batista, até que fiz um pedido no Grupo Princesa Eternamente, do Facebook, e fui atendido por Marcela, filha da professora Luizinha de Fila e Zé Vitor, que me proporcionou tantas emoções.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal, jornalista e escritor.