Arquivo pessoal
Zé Eufávio
De onde venho as mulheres cantam benditos pedindo chuva aos Céus e os homens aboiam, uma herança de outras terras. O Céu azul serve de espelho para refletir a mata verde e a beleza da Serra Branca em sua imponência milenar.
Sempre foram grandes os meus sonhos e talvez por isso não tenha soltado o grito que não soltei até hoje. O Sítio Curral Velho foi meu ambiente. Ali vivi os dias gloriosos da minha infância.
Nino, um tio-avô, criava animais e uma Jumenta pariu um jumentinho branco como algodão. Eu comecei cuidar dos dois e Nino um dia me disse que o jumentinho era meu. Mas, pediu que eu botasse um nome bonito nele.
Não tive dúvida: eu lia o jornal Correio da Paraíba na casa da minha madrinha Adair Oliveira e via muitas fotos. Uma delas me chamou a atenção: era a imagem do Presidente Castelo Branco. Matei a charada. O nome do meu Jumento estava escolhido: Castelo Branco. Branco, baixinho, atarracado e muito sabido. Era o nome perfeito.
Contei a Nino e ele riu muito. “Mas, você tem cada ideia, José”, disse. Com o Jumento eu montei um plano: vou adquirir uma cangalha, fazer duas caçambas, comprar quatro latas de Querosene Jacaré vazias e vou vender água na Rua.
A cangalha e as caçambas Nino me deu. Fui à Bodega de Zé Caica e perguntei se ele me vendia as latas fiado. O danado do nego perguntou para que eu queria as latas. Eu disse e saí de lá com as latas e o meu primeiro cliente.
Zé Caica me contratou para botar água na sua casa. Só que eu tinha que me acertar com Quitéria, sua mulher, que tinha mania de limpeza e vivia esfregando o cimento queimado com um pano molhado. Eu tirei de letra.
Quando chegava na casa de Quitéria com a carga de água, eu tirava as sandálias e entrava com o maior cuidado. Mas, sempre tem um dia de azar. E teve.
Porque Dezuite, o primeiro filho de Zé Caica e Quitéria, era um molecote e vivia engatinhando pela casa. Um dia tropecei nele e caí derrubando a lata e molhando o piso. Sobrou para Dezuite que, mesmo pequeno, levou umas palmadas na bunda da mãe.
O tempo ia passando e eu cada vez mais ia conquistando a amizade de Quitéria. Na casa sempre tinha uma travessa com um bolo e Quitéria me oferecia. Quando eu agradecia e não pegava o bolo, ela dizia: “Tu deve ser o único menino do mundo que rejeita um pedaço de bolo”.
Mas, era conversador e um dia falei para Quitéria sobre a água do Açude do Senhor Zé Gervasio, que custava cinco vezes mais do que a água do Riacho e do Açude de Dona Alaide Alencar.
No sábado, quando apresentei a conta a Zé Caica ele assustou-se e perguntou o que tinha havido. Eu disse que Quitéria tinha pedido água do Açude de Zé Gervasio.
Caica reclamou com a mulher e eu quase perco a amizade de Quitéria. E o cliente. Mas não perdi.