A família coronavírus não é novidade para a ciência. Conhecidos desde os anos 1960, os micro-organismos foram responsáveis por outras duas epidemias nos últimos anos — porém, o Sars-Cov-2 é diferente dos outros coronavírus. Mais letal e mais contagioso, cruzou fronteiras entre continentes, paralisou a economia, mobilizou os governos para evitar mortes em massa e a comunidade científica para encontrar uma vacina ou medicamento que consiga detê-lo.
De acordo com as estatísticas, cerca de 85% das infecções provocadas pelo novo coronavírus serão leves e não serão necessárias hospitalizações. Alguns casos são completamente assintomáticos. Na maioria da população, o próprio organismo é capaz de se organizar e lutar contra a ação do vírus, como em uma batalha de exércitos, mas o que se sabe até agora é que o Sars-CoV-2 ataca também as células de defesa do corpo.
Alessandro dos Santos Faria, chefe do departamento de Genética, Microbiologia e Imunologia e coordenador da Frente de Diagnóstico da Força-Tarefa da Unicamp Contra a Covid-19 explica que já há estudos mostrando o impacto do coronavírus no sistema imunológico.
“Descobriram que linfócitos T (células responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos) pode ser infectados, e que eles ficam exaustos. Por isso, não vão responder de forma ideal a essa inflamação“, afirma o professor. “É um vírus que tem um mecanismo de escape muito bom, já que ele parece desligar a resposta adaptativa.” Este dado talvez explique a possibilidade de reinfecção – se, mesmo depois de uma experiência com a doença, podemos apresentá-la de novo – que ainda está sendo investigada pela ciência.
O especialista diz que uma das questões sem resposta é a variação nas respostas imunológica dos indivíduos. “Sabemos que a capacidade de defesa cai durante a vida, por isso idosos sofrem mais com a doença. Da mesma forma, as comorbidades mexem com a qualidade do sistema imunológico”, explica. Mas as regras não estão tão claras, dada a multiplicidade de vítimas que o coronavírus já fez.
De toda forma, parte da falta de respostas é porque, cientificamente, ainda é muito cedo para se ter certezas sobre a Covid-19. Não se sabe, por exemplo, se são gerados anticorpos protetores ou se a batalha acontece de maneira celular.
Veja como o coronavírus ataca o corpo:
YANKA ROMÃO/METRÓPOLES/REPRODUÇÃO
Re-infecção
Tendo como base as informações disponíveis sobre outros coronavírus, é provável que o sistema imunológico se lembre da infecção por um ou dois anos e, depois deste tempo, seria vulnerável novamente à Covid-19, por isso aquela afirmação tão repetida de que a vida nunca será como antes. Outra ameaça seria a capacidade adaptativa do próprio vírus, como o H1N1 tem feito com sucesso.
No caso dos pacientes considerados curados que voltaram a apresentar os sintomas de coronavírus dias depois, a aposta dos cientistas é que houve um problema de testagem. O exame pode ter dado um resultado falso negativo e, na verdade, a pessoa ainda estaria infectada pela doença. Segundo as pesquisas feitas até agora, é provável que o vírus fique atenuado e não desapareça.
Alexandre ensina que alguns vírus encontram nichos no organismo onde podem ficar livres das células imunológicas em forma latente — o sistema nervoso central e a medula óssea são locais onde os patógenos costumam se esconder. Em um momento em que há uma baixa no sistema imunológico, o coronavírus voltaria a atacar.
Um único estudo feito com macacos rhesus (que possuem o sistema imunológico mais próximo do humano) re-infectados propositalmente três semanas depois mostra que não foram desenvolvidos quaisquer sintomas na segunda infecção.
(Metrópoles)