Premiê de Israel fortalece alianças com extrema-direita para consolidar caminho para reeleição e escapar de condenação na Justiça, mas pesquisas refletem incerteza.
Agora vacinados, os israelenses vão ao encontro das urnas pela quarta vez em dois anos para tentar quebrar o impasse político em que o país está mergulhado, mas também cientes de que o resultado desta terça-feira poderá levá-los a uma quinta eleição.
Como nos últimos pleitos, o voto é sobre o premiê Benjamin Netanyahu, que, embora calcado na sua bem-sucedida campanha de vacinação, luta com todas as forças para ser reeleito e tentar escapar da condenação em três processos por suborno, quebra de confiança e fraude.
A véspera eleitoral reflete a incerteza nas pesquisas de opinião e o desgaste dos eleitores. Nenhum bloco apresenta uma rota clara para assegurar a maioria de 61 cadeiras no Parlamento israelense e romper o ciclo de instabilidade.
Estima-se que o Likud, de Netanyahu, conquistará 30 assentos, menos do que nas eleições passadas. Se o premiê pode hoje se vangloriar da vacinação em massa dos israelenses, é também cobrado pelo fraco desempenho no pico da pandemia, com concessões benevolentes à comunidade ultraortodoxa, um dos pilares de sustentação ao governo.
Após três confinamentos, o país recupera o ar de normalidade, com a reabertura da economia e a volta às aulas. Seis mil mortos, a taxa de desemprego em torno de 15% e a da pobreza em 25% testam Netanyahu e o slogan “Nação da Vacina”, que norteia a campanha.
Dois ex-aliados e oriundos de seu espectro político desafiam o primeiro-ministro apresentando-se como alternativa a ele: o ex-ministro do Interior Gideon Saar, do partido Nova Esperança, e o ex-chefe de Gabinete Naftali Bennett, líder do Yamina, de extrema-direita.
O bloco da esquerda é liderado pelo jornalista centrista Yair Lapid, fonte constante de incômodo para o premiê israelense. Lapid abandonou o partido Azul e Branco, do general reformado Benny Gantz, quando este aceitou fazer parte da coalizão do governo. A aliança fracassou em um ano. Gantz, que sequer chegou a ocupar o cargo de primeiro-ministro, saiu esvaziado. Lapid, do Yesh Atid (Há um Futuro), cresceu, assegurando apoio entre os partidos de esquerda.
A instabilidade política é favorecida pela complexa construção de alianças em Israel. Nesta quarta rodada, há novidades. Na inesgotável batalha pela sobrevivência e pela imunidade parlamentar, que o livre de uma condenação na Justiça, o premiê assinou no mês passado um acordo com a coalizão Sionismo Religioso.
Prometeu cargos em troca de apoio a este grupo, formado por três partidos ultraortodoxos e de extrema-direita que defendem a implementação da lei religiosa judaica em Israel e a retirada de direitos civis dos palestinos.
Um deles, o partido extremista Otzma Yehudit (Poder Judaico) é descendente ideológico do rabino Meir Kahane, boicotado de coalizões por todos os governos anteriores por suas posições radicais contra a comunidade LGBTQ e o casamento entre judeus e árabes.
Se Netanyahu assegurar mais um mandato nas eleições desta terça-feira, o país consolidará o caminho para o que ele próprio chama de “coalizão total de direita”. Foi esta perspectiva de futuro sombrio que levou mais de 20 mil a protestarem sábado nos arredores da residência do premiê.