Apesar do otimismo das indústrias para lançamento de vacina ainda em 2020, as dificuldades vão de resultado satisfatório em testes e falta de frasco de vidro no mercado para embalar produto (Foto: Reprodução/Veja)
Dezenas de países, cientistas e indústrias farmacêuticas estão envolvidas em pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina que combata a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus e que já infectou milhões de pessoas pelo mundo.
As fases de desenvolvimento de cada pesquisa variam e a estimativa de entrada do produto no mercado também. O Reino Unido informou esta semana que, até setembro, poderá ter pronta uma vacina, se a pesquisa desenvolvida pelo país tiver resultado positivo.
A Alemanha, representada pela indústria Biontech, também acredita que terá uma vacina antes de 2021. Os Estados Unidos são outro país de fase intermediária para o desenvolvimento de antídoto para o coronavírus. A estimativa é que até o início do próximo ano haja algum produto.
Mas os efeitos dessas vacinas no organismo humano continuam obscuro, para além do fator de criação de anticorpos contra o novo coronavírus. Assim como em epidemias anteriores, os novos produtos podem causar reações adversas, algumas que levam inclusive à morte.
E ainda é preciso considerar o fator político, que extrapola o âmbito de saúde das pesquisas e, claro, os preços.
O LIVRE conversou com dois pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que acompanham o desenvolvimento de vacinas de outros países no Brasil. Eles apontam que a vacina tem chances de chegar ao Brasil em um momento em que já não terá mais tanto efeito.
Materiais
No início de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que 108 potenciais vacinas estavam em estudo no mundo. Oito estavam liberadas para teste.
Segundo o professor Alexandre Machado, as pesquisas mais avançadas estão manipulando o DNA do coronavírus, modificar a estrutura dele para criar anticorpo no organismo humano.
A pesquisa está sendo conduzida pela Universidade Waterloo, no Canadá. A modificação do DNA obriga o vírus a criar partículas no organismo que cria resistência à infecção.
“É uma pesquisa que usa um modo enfraquecido do vírus que, uma vez no organismo do indivíduo, faz ele criar resistência a si mesmo”, explica.
A Farmacore, empresa instalada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, estuda a produção de uma vacina que utiliza proteínas do próprio coronavírus.
Pesquisas mais avançadas na corrida contra o coronavírus usam a própria estrutura do vírus para criar partículas e proteínas que criam anticorpos à infecção no organismo humano (Foto: Nikkei Asian Review)
A hipótese é que as proteínas ativam o sistema imunológico contra a covid-19 em associação com um sistema desenvolvido nos Estados Unidos, que garante a entrega dos antígenos às células certas.
Mas a pesquisa ainda está em fase germinal. A previsão é que os primeiros testes comecem a ser feitos em camundongos a partir de julho.
A Moderna Therapeutics, empresa norte-americana de Cambridge, anunciou ainda em janeiro o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19. Mas o resultado ainda não foi divulgado.
A empresa disse no início do ano que iria usar uma técnica que tem como alvo o RNA, molécula mensageira que transporta informação genética viral do núcleo de uma célula infectada para o citoplasma. Esta técnica já foi usada contra outros vírus, incluindo o da gripe.
Mercado
O professor e médico Germano Augusto Alves Pacheco, membro do departamento de clínica da UFMT, prevê que mesmo que vacinas sejam lançadas até o início de 2021, não há garantia de que elas cheguem ao Brasil antes do fim do primeiro semestre do próximo ano.
Os empecilhos vão desde a capacidade de produção da indústria responsável até ao aspecto político mundial, ou seja, os atores políticos mais próximos ao país produtor terão preferência.
“A indústria norte-americana, que prevê vacina para início do próximo ano, já disse que será capaz de produzir 1 bilhão de doses por ano, ou seja, apenas um oitavo da população mundial seria imunizado. É uma proporção muito pequena, apesar de gigantesca”, comenta.
Ele acrescenta esse fator, a demanda – que estará em alta – fará pesar a regra do mercado: quanto mais procurado, mais alto o preço.
“Os países já estão gastando um absurdo com respiradores superfaturados pelo mercado. Imagina quando sair a primeira vacina? Será um preço absurdo, que apenas poucas pessoas terão acesso”, disse.