Miguel Lucena*
“Por uma universidade em defesa dos trabalhadores e do povo pobre”, estampava a faixa segurada por uma mocinha bem vestida, pele macia, cabelos sedosos e pequeno pircieng no nariz, durante manifestação contra o corte de verbas não obrigatórias para universidades públicas brasileiras.
Em 1919, Lênin, o chefe da revolução comunista da Rússia, escreveu a brochura “Como iludir o povo”, na qual desencava falsas palavras de ordem.
Nada mais falso do que a palavra de ordem na faixa da estudante de classe média alta. O povo foi alijado do ensino público superior.
Pobre e trabalhador estudam na escola pública fundamental de péssima qualidade e não conseguem acesso ao ensino público superior, reservado ao vestibular dos que estudam nas escolas privadas caras e frequentam cursinhos pré-vestibular que custam os olhos da cara.
Para conseguirem uma graduação, os pobres e trabalhadores deixam de comer para pagar faculdade particular, porque a pública, mesmo que eles consigam passar no vestibular, tem uma grade horária diurna que inviabiliza a frequência de quem labuta para ganhar a vida.
Uma prova de que a universidade pública não é dos trabalhadores nem do povo é que 80% dos professores da educação básica são formados em faculdades particulares.
Pobre continua pagando escola para ricos. Os falsos slogans não nos enganam mais.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.