Foto: Agente Margarete
Miguel Lucena
Em 24 anos de atividade policial, participei de alguns funerais de colegas que tombaram no cumprimento do dever. Vi choro e comoção, mas o feminicídio de Valderia da Silva Barbosa, para além da perda de uma companheira de jornada, assassinada com 64 facadas, foi sentido como afronta à instituição Polícia Civil do Distrito Federal e à luta secular das mulheres.
Val era chefe de seção da Delegacia da Mulher em Ceilândia. Tinha a missão de proteger e aconselhar as mulheres vítimas de violência. Sabia dos perigos que corria. E pereceu ao cair nas mesmas ciladas que as pessoas comuns caem.
E, para completar a obra maligna e perversa, Leandro Peres Ferreira, o ex-marido, esfaqueou o rosto de Val, como a desfigurar todo o trabalho que ela e suas colegas faziam e fazem em defesa das mulheres.
Ele quis enviar uma mensagem a todas as defensoras dos direitos das mulheres: “Vocês não são nada diante do poder de um macho, até a sua beleza eu levo comigo”!
Um cortejo imenso partiu da Delegacia-Geral da PCDF até o Campo da Esperança. Uma chuva de pétalas, lançadas do helicóptero da instituição, marcou a despedida da companheira martirizada, como a representar as lágrimas dos que ficaram e a alertar para a consciência de que nenhuma mulher, nem mesmo policial, estará segura enquanto perdurarem o machismo, o sentimento de posse, a rudeza e os baixos instintos.