Maria José Rocha Lima*
Nunca foi tão evidente a necessidade da Tolerância nas relações interpessoais, nas interações entre classes sociais, grupos religiosos, étnicos e até mesmo entre nações.
É possível afirmar que um dos maiores desafios do século XXI é justamente a prática da Tolerância. Ela constitui uma questão de sanidade mental e de racionalidade, capaz de impulsionar avanços civilizatórios e de deixar para trás tristes regimes de ódio e sofrimento.
Há quase dois mil anos, a Bíblia já promovia a Tolerância ao exaltar o amor, a paciência e o respeito pelos outros. Como em Filipenses 4:5: “Sejam razoáveis com todos” e em Efésios 4:2: “Sejam pacientes, tendo tolerância uns pelos outros por causa do amor”. Esses ensinamentos encorajam a compreensão das decisões alheias, ainda que não haja concordância com elas.
Em 1763, Voltaire, escritor, historiador e filósofo iluminista francês, publicou o Tratado sobre a Tolerância. A obra nasceu após a execução de Jean Calas, injustamente acusado do assassinato do próprio filho convertido ao catolicismo. O livro tinha como objetivo reabilitar Calas e resguardar a honra de sua família, mas ultrapassou aquelas circunstâncias, tornando-se um verdadeiro manifesto em defesa da diversidade humana.
Na obra, Voltaire convida à Tolerância religiosa, atacando frontalmente os fanatismos religiosos e políticos. Após a execução de Jean Calas – que proclamou sua inocência até o fim – o processo foi reaberto em Paris, resultando na reabilitação da família. Para o filósofo, a Tolerância é pressuposto fundamental à convivência social e às relações entre povos.
No sentido mais amplo, Tolerância significa compreender as diferenças culturais e agir com respeito ao próximo. Michael Walzer, filósofo político contemporâneo, atribui grande relevância à Tolerância na construção do bem-estar dentro dos grupos de interesse. Ele observa que diferenças de classe, etnia, religião e educação perduram ao longo dos séculos, por serem construções humanas resultantes de lentas evoluções do pensamento.
Chama a atenção, ainda, o uso espetacular dos choques culturais nos meios de comunicação. Em poucas horas é possível estar em qualquer parte do globo, e uma informação dramática circula em segundos. Walzer reforça que falar de Tolerância é falar de uma virtude indispensável à paz.
*Maria José Rocha Lima é professora, mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Psicanálise. Foi deputada estadual (1991–1999).