Maria José Rocha Lima[1]
Um encontro muito querido e histórico de dois velhos militantes da educação: o professor Luizinho e eu. O encontro ocorreu no Brasília Shopping e desencadeou em mim memórias emocionantes.
Nos lembramos com alegria que fomos fundadores da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação- CNTE. Luiz Carlos da Silva Gomm, mais conhecido como Professor Luizinho, é um professor, matemático e político brasileiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi deputado federal por São Paulo, por dois mandatos consecutivos; foi deputado estadual pelo mesmo estado, também por dois mandatos, e vereador de Santo André.
Ele lembrou do bom combate, nas votações finais dos Congressos de Professores.
Eram embates fortíssimos, mas boa parte da nossa formação em educação e política acontecia naqueles Congressos da CPB. Professor Luizinho de um lado, representando os sindicalistas que construíam a CUT, e eu do outro, representando o que chamavam Sindicalismo Classista. Durante pelo menos cinco anos da minha vida sindical, fui encarregada de derrotar a proposta de filiação da CPB à CUT. Esta defesa me custou uma “antipatia histórica” com os militantes do PT, que, em alguns, perdura até os nossos dias. Eu era a oradora oficialmente escalada pelo PC do B para as plenárias finais, que malvadeza! Milhares de professores brasileiros já esperavam as últimas plenárias do congresso de professores, nas quais iriam ser confrontadas as teses. Era uma espécie de FLA X FLU. De um lado a professora Zezé da Bahia ou Raquel Guizone (in memoriam); do outro lado o professor Luizinho ou professor Gumercindo Milhomem, do PT/SP, que gozavam de grande prestígio entre os professores brasileiros.
Eram realizadas conferências educacionais riquíssimas, com simpósios e painéis, e o próprio ambiente político nos formava. Participamos ativamente da articulação para o fortalecimento da CPB, como entidade única dos professores, e posteriormente participamos da transformação da CPB em Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, da qual fui vice-rresidente regional, por duas gestões.
Em 1979, a CPB havia realizado uma mudança em seu estatuto, incorporando os professores secundários dos antigos ginásios, e passou a se chamar CPB – Confederação dos Professores do Brasil. Desse modo, tornou-se uma articulação essencial para o movimento nacional dos professores. Entre os anos de 1982 a 1988, a CPB consolidou-se como entidade nacional dos professores, cumprindo importante papel com características sindicais, mesmo na época em que era proibida a sindicalização do funcionalismo público. Lamentamos juntos o falecimento Tomaz Gilian Deluca Wonghon, ocorrido ontem. Tomaz teve papel importantíssimo na consolidação da CPB e na sua transição para CNTE.
O professor Luizinho lembrou que em 1989 a Confederação dos Professores do Brasil se transformou em Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, passando a representar todos os trabalhadores em educação, não apenas professores. Começava uma nova e gigantesca batalha. Estava inaugurada uma nova página na história. Aquelas lutas promoveram algo novo e significativo para os professores e para as camadas populares no Brasil, especialmente a ampliação do movimento em Defesa da Escola Pública. Depois de uma forte Campanha Nacional liderada pela Confederação dos Professores do Brasil –CPB -, conseguimos ver a aposentadoria especial para o professor e uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Conquistamos os fundos de financiamento para educação, que surgiram inicialmente na Bahia, a APLB (sob a minha Presidência) incluiu na Constituição da Bahia, inspirada em Rodolfo Dantas, Rui Barbosa e Anísio Teixeira; alcançamos no Governo Lula o piso salarial para o professor; às obrigatoriedades de Planos de Carreira para o Professor e estabelecimento de jornadas de trabalho com a reserva de 30% da carga horária para estudo e planejamento.
Em 2001, assessorando a Bancada do Partido dos Trabalhadores –PT- na Câmara dos Deputados, com apoio do deputado professor Luizinho, reproduzi aquelas experiências, organizando a 1ª Conferência de Educação da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, para a qual foram convidados 200 educadores que lutaram pela democratização da educação brasileira. E o pensamento voltou lá na década de 1980, só faltou aquele foguinho quase sagrado, que incendiava as nossas almas, na luta pela redemocratização do país.
Professora Maria José Rocha é mestre em educação e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991-1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro e com o Diploma Bertha Lutz por ter sido a primeira parlamentar brasileira a criar Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.